Vander, de Barbara Carmo
Com menos de três minutos de duração, “Vander” lembra bastante um curta-metragem de Felipe André Silva exibido há pouco em festivais: “Cinema Contemporâneo”. Em ambos, basta uma fotografia para arquitetar toda uma narrativa. Barbara Carmo consegue ser igualmente frontal ao compartilhar a breve relação estabelecida com o seu pai, que fora morto quando ainda era uma criança. A narração e os cortes de “Vander” poderiam ser bem-ajambrados? Sem dúvida. Mas o relato é tão desconcertante que os pequenos descuidos advindos de um primeiro trabalho audiovisual pouco importam. “Hoje escrevo filmes. E nenhum deles têm final feliz.” Pois mal posso esperar para apreciar as próximas histórias de Barbara Carmo. ★★★★
Enterrado no Quintal, de Diego Bauer
Curtametragista há seis anos, Diego Bauer causou forte impressão sobretudo com “Obeso Mórbido”, onde também se apresenta como intérprete para levar para a ficção a travessia de alguém em processo de emagrecimento. Agora, ele se apropria de um conto da autoria de Diego Moraes para criar uma espécie de thriller periférico em que a protagonista Isabela põe em prática um plano de vingança contra o seu padrasto, agressor de sua mãe. Os 15 minutos da metragem não proporcional à história a possibilidade de uma evolução que autorize alguma consequência para o seu clímax, mas Bauer demonstra um grande domínio no ritmo e tensão de seu curta, além de assegurar para Isabela Catão o espaço para uma grande interpretação. ★★★
4 Bilhões de Infinitos, de Marco Antonio Pereira
Premiado no Festival de Gramado em 2017 com o curta-metragem “A Retirada Para Um Coração Bruto”, Marco Antonio Pereira agora apresenta “4 Bilhões de Infinitos” com uma fórmula que dificilmente dá errado: a de crianças que não autorizam que um contexto de pobreza e luto contaminem a esperança por dias melhores e que encontram no cinema uma válvula de escape. O fato de utilizá-la sem sentimentalismo barato engrandece uma obra que repercute de modo especial para aqueles que, em isolamento social, sentem falta da experiência coletiva de uma sala de cinema. ★★★
O Mundo Mineral, de Guerreiro do Divino Amor
Suíço radicado no Rio de Janeiro, Guerreiro do Divino Amor (pseudônimo de Antoine Guerreiro) desenvolve desde 2005 o Atlas Mundial Superficcional, no qual “O Mundo Mineral” vem a ser o quinto e mais recente capítulo. Assim como os anteriores, faz uma espécie de breve apresentação regional a partir de um texto em que o sarcasmo é ofertado em doses bem sutis. O principal mérito, entretanto, é a criação de um universo paralelo que se desenha diante de nossos olhos em velocidade ágil com uma série de colagens e mutações de imagens. Por mais estranho que pareça, assistir a este experimento com a sobriedade comprometida é ainda melhor: não somente foi o meu último filme da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, como o apreciei depois de ter virado uma garrafa de vinho ruim e barato. ★★★
Céu de Agosto, de Jasmin Tenucci
Curioso notar nos dois últimos anos do cinema em geral o modo como o processo de gestação de um bebê tem sido retratado a partir de perspectivas extremamente originais, por vezes controversas. “Pieces of a Woman” abriu o ano causando uma forte impressão, enquanto “Devorar” é fácil um dos melhores filmes de 2020. Jasmin Tenucci tem vivências com textos de projetos televisivos (como a série “As Five”) e assume a direção de “Céu de Agosto” misturando os receios da concepção de um ser vivo com a mudança da natureza urbana que a cerca (a escuridão vespertina é o melhor momento de seu filme) e a conversão religiosa. Protagonista de “Descompasso”, curta feito por Tenucci em 2011, Gilda Nomacce surge aqui em participação especial no melhor estilo “não ouviu, perdeu”. ★★★