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Joel Schumacher poderia vencer com todos os méritos se existisse no mundo do cinema o prêmio de diretor mais irregular na ativa. Mesmo que conte com mais de duas dezenas de filmes no currículo e tenha lá momentos muito inspirados, o veterano cineasta tem duas falhas que cicatrizaram em si definitivamente: o medo em ousar e como conduz os roteiros que seleciona. “Número 23″ apresenta essas imperfeições. Aqui temos o melhor e o pior do diretor, que, mesclados, torna o resultado insatisfatório. A história é de constante tensão e envolvimento em seu prólogo e desenvolvimento (assim como vistos em “Por Um Fio”, “Tempo de Matar” e “Tigerland”), mas descamba feio no terço final e decisivo (a falta de ir mais longe enfraqueceu “8MM” e as situações patéticas são marcas do diretor em filmes como “O Cliente” e “Um Dia de Fúria”).
Neste aqui, Jim Carrey tenta provar novamente que é capaz de ser mais que um mero comediante, o que já foi comprovado nos ótimos “O Mundo de Andy” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Ele incorpora Walter Sparrow, um simples cidadão americano que entra em paranoia quando ganha de sua esposa o livro “The Number 23″. Ao ler detalhadamente cada uma das páginas, ele acredita que Fingerling (personagem narrado no livro, também interpretado por Carrey) seja uma inspiração de sua vida no passado, tamanhas as coincidências. Ao acumular diversos fatos, cria uma obsessão doentia pelo número 23, dois algarismos unidos que podem resultar em diversas soluções, como a solução para a soma entre dia, mês e ano que foi realizado o ataque as Torres Gêmeas, o número da carteira de habilitação Walter e até mesmo o horário de seu próprio nascimento. Virginia Madsen interpreta sua esposa no presente e amante de Fingerling na encenação da narrativa literária (onde aparece sensualíssima). Já Danny Huston aparece como um professor amigo do casal , enquanto Rhona Mitra surge nos flashbacks como uma mulher que pode ser a chave do mistério.
Na promissora primeira hora é jogada teorias malucas que são capazes de deixar parte da plateia com os cabelos arrepiados. Após, há um batido suspense psicológico que confere alguns furos gritantes no roteiro e um final formal e melodramático. Poderia recorrer a diversos temas como destino, casos apocalípticos, reencarnação, numerologia, entre outros, mas infelizmente estamos falando de Schumacher, diretor que parece não ter extraído nenhuma lição com os erros do passado. A grande divulgação do filme no Brasil deve render uma boa venda de ingressos, assim como a data marqueteira de lançamento, mas boas opções de cinema de verdade e com qualidade estão sobrando no circuito.