Bobby, de Emilio Estevez
Faltavam poucos passos para Emilio Estevez encerrar “Bobby”, drama que une dezenas de personagens no hotel que serviu como cenário para o brutal assassinato de Robert Francis Kennedy, até que chegou a determinado ponto onde a importância da realização estava direcionada mais aos nomes de peso no elenco do que a encenação do infortúnio ocasionado na noite do dia 5 de Junho de 1968. Felizmente, todos colaboram ao evitar a busca pelo brilho individual, preferindo interpretar com sentimento de coletividade, enquanto Estevez confere sensibilidade aos instantes finais do seu projeto, que demorou anos para ser concluído e entregue para todo o mundo, optando por captar todo o “sismo humano” do que investigar com afinco os mistérios que ficaram no ar.
Mesmo que o palestino Sirhan Bishara Sirhan tenha sido capturado naquela mesma noite nos arredores do refeitório do luxuoso Hotel de Los Angeles Ambassador, ainda há questões a respeito da possibilidade de ter sido arquitetado uma conspiração, possivelmente a mesma que matou o irmão e companheiro político do senador Bobby, John Francis Kennedy. Neste cenário que Estevez revive, somos apresentados dos hóspedes aos funcionários. Paralelamente, trechos verídicos de Robert Kennedy mostrando as suas propostas aos cidadães americanos são passados ao longo da projeção.
No tranquilo cotidiano daquele edifício, temos Cooper (Shia LaBeouf) representando a fase adolescente rebelde daquela época onde busca junto com um amigo o fornecedor de drogas Fisher (Ashton Kutcher) para fazer uma “viagem alucinante”. Também temos a opulenta Samantha (Helen Hunt) que acredita na possibilidade de que os trajes de grife podem corresponder as suas convicções. Paul (William H. Macy) é um dos gerentes do local, que mantém um caso às escondidas com a telefonista Angela (Heather Graham), também ocultando certo envolvimento com a cabeleireira Miriam (Sharon Stone). De tantos personagens, ainda temos Tim (Estevez) que vive à sombra do sucesso da sua mulher desequilibrada Virginia (Demi Moore), e Diane (Lindsay Lohan), que deseja se casar com William (Elijah Wood) para que este não seja selecionado para a guerra no Vietnã, mesmo que a paixão entre ambos pareça não existir.
A princípio, deduzimos que o excesso de personagens não fará com que as histórias sejam costuradas adequadamente ao final do filme, até mesmo por estas demonstrem ser fracas. E é exatamente aqui que encontramos a maior das muitas virtudes de “Bobby” onde, independente de credo ou classe social, são seres humanos errantes e que têm o livre direto de redenção, fazendo com que cada ação e diálogo, mesmo singelo, seja compreendido pelo público.
Robert Kennedy se elegeu à presidência com o intento de lutar pela igualdade e pelos direitos civis dos negros na sociedade americana, além de acompanhar as eleições mostrando propostas contra a guerra no Vietnã. Como nunca, a população acreditou em Kennedy, mas viu a esperança de dias melhores ser destruída através do homicídio daquela noite.
Mesmo que ocorrido há quase 70 anos, os acontecimentos de “Bobby” encontram ressonância com a nossa atualidade, especialmente com a declaração narrada durante a sequência desesperadora que mesclam as filmagens do diretor juntamente com os vídeos reais do momento dos disparos. Ou seria mentira que, mesmo com toda a violência, preconceito e pobreza, precisamos nos unir com todas as forças para viver em harmonia?