Spider-Man 3, de Sam Raimi
Com o orçamento estimado em 240 milhões de dólares – que o torna a produção mais custosa da história do cinema, somando ainda os valores de marketing – era de se esperar um filme grandioso nesta terceira aventura do jovem Peter Parker. Se as aventuras rodadas em 2002 e 2004 agradaram a maioria, as coisas mudam de figura em “Homem-Aranha 3”, onde nem os fãs mais fervorosos se entrosaram tanto.
Desta vez, a técnica não impressiona e a concepção dos três vilões é inaceitável. Falando em vilões, já até notamos em cena a falta de disposição no cineasta Sam Raimi, que despreza a todo custo o simbionte alienígena Venom, obrigado pelo estúdio a introduzi-lo nesse capítulo. É mais um produto ruim que se une a tantos outros títulos deste novo gênero de Hollywood, inaugurado com força total pela produtora Marvel Comics.
Adaptado dos quadrinhos de Stan Lee e Steve Ditko, as ilustrações de “Homem-Aranha” mostravam aos leitores o surgimento de inúmeras responsabilidades quando um desajeitado rapaz adquire poderes após ser picado por uma aranha exposta à radioatividade, mesmo com habilidades que o tornava uma pessoa mais segura. Em “Homem-Aranha 3”, o herói (interpretado por Tobey Maguire, de “O Segredo de Berlim”) já é idolatrado pelo público e tudo na vida de Peter Parker está em total controle.
Obviamente, novas ameaças só podem ser combatidas com a sua bondade, mas nada é tão fácil. Primeiro temos o bandido foragido Flint Marko, transformado no Homem de Areia (Thomas Haden Church, de “Sideways – Entre Umas e Outras”) o real culpado pela morte do tio Ben. Também vemos a obstinação de Harry Osborn (James Franco, de “Flyboys”) em aniquilar o Homem-Aranha, já sabendo que por trás da máscara está a face de Peter Parker, a pessoa que acredita ter assassinado seu pai. Por último, Eddie Brock (Topher Grace, de “Segunda Chance”) é quem se renderá a face negra como Venom. Já as crises pessoais surgem novamente quando Mary Jane Watson (Kirsten Dunst, de “Maria Antonieta”) desconfia de que seu possível futuro marido está se envolvendo com Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard, de “Manderlay”).
É claro que tantas camadas de personagens só ganham interesse na leitura, pois na ação o desastre é monumental. Se a presença de Harry Osborn dá um brilho surpreendente na produção, a qualidade não consegue apagar, por exemplo, como Gwen Stacy é jogada a esmo na premissa, já que nos quadrinhos ela é uma garota totalmente relevante a vida de Parker, eternizada como sua primeira namorada. Há também decisões tolas que Raimi insiste em impor no decorrer dos acontecimentos (ninguém consegue me fazer engolir a sequência constrangedora onde Parker desfila dançando pelas lojas e calçadas de Nova York, usando a roupagem de um autêntico emocore).
Quando o clímax ganha sustento, novamente a plateia é vítima de uma insuportável tortura audiovisual, tentando nos fazer acreditar que todo aquele perigo de confrontos é verdadeiramente emocionante. Sam Raimi e o roteirista Avil Sargent (responsável pelo bom script de “Infidelidade”), ainda se preocupam demais em desenvolver uma personalidade de um herói que já se caracterizou roubando tempo e paciência, deixando novamente a ação quase como pano de fundo. Lamentável é ver que ambos perdem as de si próprios ao fazerem do que podemos apelidar de aberração em celuloide. Poupe-nos de uma nova continuação, por favor.