No início da década de 1980, Steven Spielberg cercou-se de grandes nomes para compor o seu oitavo projeto. Com uma história de Lawrence Kasdan, que por sua vez teve como base um argumento desenvolvido por George Lucas e Philip Kaufman, Spielberg ainda teve o apoio de Frank Marshall como produtor e John Williams como compositor de uma das trilhas mais memoráveis do cinema. São os nomes principais de “Os Caçadores da Arca Perdida”, uma obra que até hoje é alvo de referência em filmes que vão de “As Minas do Rei Salomão” até a série “A Múmia”. O sucesso imediato de público e os grandes prêmios que conquistou nas principais premiações do cinema possibilitou a construção de duas sequências, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (produzido em 1984) e “Indiana Jones e a Última Cruzada” (este de 1989).
O que diferencia esta série cinematográfica de tantas outras do gênero é que Spielberg, sempre muito talentoso e um dos poucos cineastas em atividade que consegue comandar um espetáculo arrasador com as ferramentas de filmes pipoca, sabe misturar com elegância a adrenalina que uma aventura pode proporcionar e o humor que ela reserva. É também uma saga que transmite emoções em suas missões de perigo e que preserva alguns valores como coragem, determinação e companheirismo. Assim se explica toda essa expectativa em torno de um quarto episódio, um projeto planejado por anos e que só ganhou as telas neste ano de 2008. No entanto, se é para trazer um mito de volta depois de dezenove anos de estratégias, mudanças e essa vontade perseguidora de retorno aos velhos tempos em uma nova geração que o façam direito.
É difícil acreditar que um processo de seleção tão rigoroso enquanto a uma nova história tenha chegado a um fim com o roteiro de David Koepp, que é tolo e nada inspirado – e olha que o também diretor Koepp diz ter aproveitado o que havia de melhor nos scripts anteriores e recusados por Spielberg, Lucas e Harrison Ford. Por falar em Ford, o ator com seus 66 anos retorna bem ao papel depois do susto causado pelo seu cansaço nas cenas agitadas de “Firewall – Segurança em Risco”, mas algo se perde entre o Indy de “Os Caçadores da Arca Perdida”, “O Templo da Perdição” e “A Última Cruzada” com este de “O Reino da Caveira de Cristal”: a ação aqui tem alguns toques mais jovens e Indy acaba por dividir a cena com Mutt (Shia LaBeouf), que não tarda a se apresentar como filho do arqueólogo e para a magia se perder sem chances de resgate.
Karen Allen reaparece como Marion, a mocinha do primeiro filme, mas a sintonia entre ela e Indy não é a mesma por culpa das péssimas sequências que protagonizam juntos. Se já existem problemas com o trio principal, o que então dizer dos personagens secundários? Tudo está uma bagunça e Cate Blanchett como Irina Spalko reserva aqui uma interpretação fraca, especialmente se a compararmos com os vilões das três aventuras anteriores. Mas o pior de tudo é que a trama de busca de um novo artefato, a Caveira de Cristal, é processada sem que seja capaz de nos envolvermos pela nova missão. Não há empolgação, não há graça. Nostalgia é bom e eu gosto, mas se é para tirar do papel algo tão desleixado quanto este “O Reino da Caveira de Cristal” prefiro rever as aventuras anteriores.
Título Original: Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull
Ano de Produção: 2008
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: David Koepp
Elenco: Harrison Ford, Cate Blanchett, Karen Allen, Shia LaBeouf, Ray Winstone, John Hurt, Jim Broadbent, Igor Jijikine, Sasha Spielberg, Andrew Divoff e Alan Dale
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