Ao iniciar a carreira de diretor através de uma comédia criminal com toques de horror que ninguém viu (“It’s Murder!”), Sam Raimi seguiu com a cabeça erguida ao comandar “The Evil Dead – A Morte do Demônio”. Porém, não imaginaria que esse terror barato rodado em uma cabana abandonada se transformaria em uma das mais aclamadas obras já produzidas no gênero. O sucesso não possibilitou apenas a criação de uma trilogia bem-sucedida como também rendeu a Sam Raimi reputação de diretor que mergulha com excelência em universos fantásticos e produtor com excelente visão para os negócios – ele é o dono da Ghost House, produtora de títulos como “O Grito” e “30 Dias de Noite”.
Com toda a importância que “The Evil Dead – A Morte do Demônio” exerceu sobre sua carreira, é natural que Sam Raimi relembre dessa produção com carinho. Lamentavelmente, isso o fez tomar uma decisão cada vez mais comum no cinema contemporâneo: reviver toda a mitologia que cerca a obra original. Como o ciclo das aventuras de Ash (vivido por Bruce Campbell) foi devidamente fechado em “Uma Noite Alucinante 3”, não era possível fazer uma continuação tardia com o herói e relacioná-lo ao “Necronomicon”, “O Livro dos Mortos”. Assim, temos a nova versão de “The Evil Dead”, “A Morte do Demônio”, agora dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez, um nome bem comentado após o sucesso do curta-metragem “Ataque de pánico!”.
Mesmo que um clássico inegavelmente divertido, temos que concordar que “The Evil Dead – A Morte do Demônio” não trabalha com uma premissa que rende muito material para uma reimaginação. Em “A Morte do Demônio”, o erro está em reciclá-lo e acrescentar novas soluções gore que rendem um resultado nem um pouco autêntico. No primeiro ato, não há qualquer esforço para fazer as coisas diferentes, embora o motivo que dos protagonistas em se hospedarem em uma cabana no meio do nada seja novo.
Viciada em drogas, Mia (Jane Levy, do seriado “Suburgatory”) conta com o apoio dos seus amigos Olivia (Jessica Lucas) e Eric (Lou Taylor Pucci) no processo de reabilitação em um lugar insólito. Irmão distante, David (Shiloh Fernandez) presta apoio à Mia trazendo sua namorada Natalie (Elizabeth Blackmore) como companhia. Logo na primeira noite, o quinteto explora um porão que provavelmente foi palco de rituais de bruxaria. Nele, Eric encontra o livro “Necronomicon”. Mesmo macabro e preenchido de advertências que afastem qualquer leitor, a curiosidade do sujeito fala mais alta e ele acaba invocando uma presença demoníaca com intenção de matar a todos.
Assim como no filme de 1981, tal premissa serve somente de pretexto para iniciar um show de horrores que envolve membros decepados, muito sangue falso, tripas, mortes violentas e possessões demoníacas propositalmente hilárias. Somente o humor se apresenta em uma voltagem reduzida, o que não garante que as cenas que se pretendem assustadores sempre funcionam.
Além das poucas novidades, “A Morte do Demônio” tem outra inferioridade diante do filme de Sam Raimi: a escolha do protagonista. Deliciosamente canastra, Bruce Campbell atualmente ocupa como Ash boas posições em diversas listas dos melhores heróis do cinema. Já o canadense Shiloh Fernandez é um jovem de carisma zero e que apresenta a mesma reação tanto nas cenas dramáticas quanto aquelas de puro horror. Somente o terceiro ato, com uma chuva de sangue que transforma a tela em uma verdadeira pintura macabra, é que as engrenagens trabalham em favor de “A Morte do Demônio”. Nada que garanta expectativa para uma sequência ou justifique a existência dessa refilmagem.
Evil Dead, 2013 | Dirigido por Fede Alvarez | Roteiro de Fede Alvarez e Rodo Sayagues | Elenco: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore, Phoenix Connolly e Jim McLarty