Resenha Crítica | Gravidade (2013)

Gravidade | Gravity

Alfonso Cuarón concebeu o argumento de “Gravidade” em uma ocasião em que ele não poderia ser materializado como longa-metragem. Após “Filhos da Esperança”, Cuarón ofereceu o projeto a diversos estúdios. As recusas o fizeram a chegar às seguintes conclusões: realizar “Gravidade” demandaria muito dinheiro e filmá-lo não seria possível com as tecnologias disponíveis. Mesmo após as certezas vindas com lançamento de “Avatar“, o processo para dar vida à “Gravidade” foi longo e sem garantias de sucesso. Não à toa, o lançamento chegou a ser adiado em um ano.

Os desafios encarados por Alfonso Cuarón de certo modo potencializam a jornada de Ryan Stone (Sandra Bullock), uma engenheira à deriva no espaço após os destroços de um satélite atingirem a estação espacial em que ela e o astronauta Matt Kowalski (George Clooney) estão para realizar uma manutenção de rotina em um telescópio Hubble. As coisas são tensas, pois Ryan, novata em sua primeira missão espacial, se perde do veterano Matt e visualiza que os danos causados na nave podem impossibilitá-la de voltar à Terra.

Filmado integralmente sobre fundo verde e cabines especiais, “Gravidade” exigiu que novas tecnologias fossem criadas para ambientar Ryan no espaço. Do início ao fim da produção, Cuarón, o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki e o supervisor de efeitos visuais Tim Webber desenvolveram métodos para criar uma ficção realista, pois há dificuldades em encontrar a iluminação adequada para representar o que é dominado pela luz natural ou mesmo comandar longos takes quando o único meio que os atores têm para se situarem são as marcações e os movimentos intensamente coreografados.

Uma vez estabelecidos os fatores técnicos, resta à Sandra Bullock a grande responsabilidade de responder ao fator emocional exigido em uma história nada convencional escrita por Alfonso e Jonás Cuarón. Sandra é dona de um carisma impossível de ser emulado por qualquer outra atriz e “Gravidade” explora da melhor forma possível essa qualidade ao transformá-la em uma mulher que redescobre na morte anunciada a vontade de viver.

Acima de tudo, “Gravidade” é uma metáfora sobre a existência humana. O apuro estético e as interações (imaginárias ou não) são meios para representar os tormentos internos de Ryan. Mesmo que uma tragédia recente tenha destruído o seu prazer pela vida, há a possibilidade de renascimento e também de abandonar sua pequenez diante do universo. Mais significativa que a imagem de Ryan simulando involuntariamente um recém-nascido com um cabo representando um embrião ou o contato humano em uma circunstância em que a solidão a abate como nunca é justamente o contra-plongée que encerra “Gravidade”, visualizando uma Ryan maior do que tudo que a cerca. Mais do que permitir que o cinema avance um passo, “Gravidade” é uma experiência cinematográfica com o poder de transformar nossas percepções.

Gravity, 2013 | Dirigido por Alfonso Cuarón | Roteiro de Alfonso e Jonás Cuarón | Elenco: Sandra Bullock, George Clooney e vozes de Ed Harris, Orto Ignatiussen, Phaldut Sharma, Amy Warren e Basher Savage | Distribuidora: Warner Bros.

6 Comments

  1. […] Acima de tudo, “Gravidade” é uma metáfora sobre a existência humana. O apuro estético e as interações (imaginárias ou não) são meios para representar os tormentos internos de Ryan. Mesmo que uma tragédia recente tenha destruído o seu prazer pela vida, há a possibilidade de renascimento e também de abandonar sua pequenez diante do universo. Mais significativa que a imagem de Ryan simulando involuntariamente um recém-nascido com um cabo representando um embrião ou o contato humano em uma circunstância em que a solidão a abate como nunca é justamente o contra-plongée que encerra “Gravidade”, visualizando uma Ryan maior do que tudo que a cerca. Mais do que permitir que o cinema avance um passo, “Gravidade” é uma experiência cinematográfica com o poder de transformar nossas percepções. + […]

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