Resenha Crítica | Entre Vales (2012)

Entre Vales

Entre Vales, de Philippe Barcinski

Em seu segundo longa-metragem, Philippe Barcinski se apropria de dois ambientes para representar o abismo emocional de Vicente, personagem vivido por Ângelo Antônio. Na verdade, Vicente é um homem dividido em dois na narrativa. Em um tempo, ele estreita os laços com o seu filho Caio (Matheus Restiffe) enquanto nada faz para evitar o declínio de seu casamento com Marina (Melissa Vettore), uma dentista que anda (aparentemente) estendendo o seu expediente de trabalho. Em outro, Vicente se apresenta como Antônio enquanto recolhe materiais reciclados em um lixão.

Rapidamente, as imagens de um aterro sanitário (o que inclui sua representação em uma maquete) ainda inexplorado e outras de catadores desesperados atrás de algum lixo reutilizável se mesclam e representam uma alegoria óbvia. São representações do estado de espírito de um Vicente que aos poucos perde sua integridade como homem e de um Antônio já imerso em um estado mais degradante possível.

Philippe Barcinski tomou duas decisões pouco usuais em “Entre Vales”, uma muito acertada e a outra, comprometedora. Mesmo ambientando em um lixão, terreno em que almas sem perspectivas encontram refúgio e brigam pelo seu próprio território, o tom de denúncia, sempre aguardado em relatos de ficção como este, é descartado para contemplar os dramas privados de Vicente/Antônio. Já a narrativa é repartida em dois tempos que não se completam com harmonia, somente auxiliam na antecipação de acontecimentos que se pretendem surpreendentes. Irretocável mesmo, somente o extraordinário Ângelo Antônio entre vales tão nebulosos.

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