Entrevista com Marina Person, atriz de “Canção da Volta”

.:: 40ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Para muitos, Marina Person sempre será uma das mais queridas VJs da MTV Brasil. No entanto, o espectador mais sintonizado com o cinema do que com a tevê sabe que a paulistana já trilha um caminho muito diferente. Quem viu o curta-metragem “Almoço Executivo”, o qual codirigiu com Jorge Espirito Santo em 1996, certamente notou a sua aptidão para o cinema e que uma transição seria apenas uma questão de tempo.

Hoje, Marina tem outros títulos na direção (no documentário com “Person” e na ficção com “Califórnia“). Com “Canção da Volta“, ela testa o seu lado como intérprete, sendo dirigida pelo marido, Gustavo Rosa de Moura, e desafiando-se ao incorporar Júlia, uma mãe e esposa que precisa enfrentar a realidade após uma tentativa de suicídio. Desafio esse que tira de letra. E há mais pela frente, como ela nos contou na entrevista a seguir.

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Estamos em um momento no qual o suicídio é debatido mais do que nunca, resultado dos altos índices de indivíduos que tiram a própria vida e de campanhas de conscientização, como o Setembro Amarelo. “Canção da Volta” é um filme sintonizado com essa realidade ou ele parte de algo mais particular?

No momento em que fizemos o filme, o Gustavo foi muito inspirado nessa questão da dificuldade que os casais têm em continuar juntos quando um deles tem um desequilíbrio muito grave devido a uma condição mental. A inspiração é baseada em algo muito particular, o que não quer dizer que ela tem um alcance universal. Quando fiz a pesquisa para a personagem, o que me intrigava era justamente o suicídio, uma questão que compreendemos muito pouco. O suicídio é um tabu, é visto com muito julgamento. Sempre há os questionamentos. Por que ele fez isso? Foi um ato de covardia? Foi um ato de coragem? É um tema que intriga as pessoas e o filme é essencialmente sobre esse casal, como eles se relacionam, sob o ponto de vista de um homem que tenta controlar os sentimentos, os desejos dessa mulher com quem ele está casado há alguns anos, com quem tem dois filhos e que ainda assim a vê como um enigma. Ela é um mistério. Ela é opaca. Ela é indecifrável para ele.

A sua composição é muito bem trabalhada, retratando uma mulher em um estado permanente de inércia diante da vida. Como foi a sua preparação para o papel?

Fizemos muitas coisas. A primeira coisa que eu queria, pois era importante para mim, foi desconstruir aquela pessoa que estava acostumada a falar para a câmera, que era uma apresentadora. Tive que tratar a câmera como uma outra coisa. A principal diferença que há entre uma função e a outra é que você não pode olhar para a câmera, deve fazer as coisas como se ela não existisse. Ela é a sua amiga e parceira, mas não pode ser perceptível. Fiz preparação de corpo e de voz com o Victor Mendes. Não sou uma atriz experiente, então precisava de tudo isso para chegar nos ensaios com o João Miguel e o Gustavo. A Júlia é uma personagem muito diferente de mim. Ela tem um mundo interior muito turbulento, não se expressa tão bem verbalmente, tendo dificuldades de pedir ajuda. O seu meio de expressão é o corpo, a dança, a movimentação, as pequenas manias, como a coisa que ela tem com as mãos quando está tensa.

Você codirigiu o curta-metragem “Almoço Executivo”. No ano passado, lançou “Califórnia”, sua estreia na direção de ficção. Hoje, está promovendo o seu primeiro trabalho como atriz. Há algum campo artístico que ainda tem desejo de explorar?

Eu gosto muito de cinema. As pessoas não costumam saber, mas eu fiz escola de cinema. Fui trabalhar em televisão porque era um momento difícil para o cinema brasileiro. Estava desempregada, foi uma questão de sobrevivência. Precisava pagar as contas, arrumar um emprego e assim apareceu a MTV. Não imaginava que ficaria tanto tempo na emissora, mas gostava de trabalhar lá e as coisas foram dando certo. Agora, para eu voltar ao cinema, primeiro como diretora de “Califórnia” e agora como atriz em “Canção da Volta”, é uma espécie de realização, de uma continuação daquilo que eu iniciei na vida profissional. E eu quero fazer mais, tanto como diretora quanto como atriz e produtora. O cinema é um território do qual tenho muito a explorar.

Canção da Volta

Tem outros projetos como diretora, produtora e atriz em estágio inicial e que pode falar a respeito?

Tenho um projeto que está em fase de roteirização, outro que está na fase do argumento e mais um na fase da ideia. Todos são projetos em que estou como diretora. Como produtora, tenho um chamado “Antes Tarde do que Nunca”, uma comédia com uma vocação mais comercial, voltada ao grande público. Também será dirigido pelo Gustavo, no ano que vem.

A sua relação com a Mostra é de longa data. Poderia compartilhar qual foi o momento mais especial que teve no evento?

Foi quando eu mostrei “Califórnia” no ano passado. Fora “Canção da Volta” agora, este ano também é muito especial. Mas exibir “Califórnia”, o meu primeiro trabalho como diretora, para alguém que é rata de Mostra desde os 11 anos… Não tinha nem idade para ir à Mostra. Era proibido, mas conseguia, pois era grandona e conseguia burlar a legislação. Frequento a Mostra desde sempre. Quando era adolescente, tinha muito tempo livre e via 40 filmes, eu entrava em um saindo de outro durante 15 dias almoçando pão de queijo, pipoca, o que dava. Comprava uma permanente e ficava para ver todos os filmes que podia. Tenho uma ligação afetiva com a Mostra.

Crédito da imagem em destaque: Mario Miranda Filho/Agência Foto

2 Comments

  1. Marina Person, com seu finado “Cine MTV”, fez parte da minha formação como cinéfila. Quero muito assistir ao filme que ela dirigiu, “Califórnia”, mas ainda não tive oportunidade. Não sabia que ela se aventurava também como atriz.

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  2. Kamila, conheço mais a Marina Person pelo cinema mesmo, especificamente na Mostra, pois ela costumava participar da cerimônia de abertura com o Serginho Groisman. Não via MTV por um motivo engraçado: a sintonia da tevê da minha casa era péssima, pois o meu bairro é situado em um ponto baixo da cidade. =P

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