Resenha Crítica | 50 São os Novos 30 (2017)

Marie-Francine, de Valérie Lemercier

.:: Festival Varilux de Cinema Francês 2018 ::.

Hoje com 54 anos, a francesa Valérie Lemercier priorizou em sua carreira a atuação no humor. Mostrou-se uma atriz impagável no gênero, talvez passando a ser notada mais pelo público brasileiro a partir de “Um Lugar na Plateia”, em que foi laureada com o César de Melhor Atriz Coadjuvante. Já em “50 São os Novos 30”, é o primeira vez que a vemos com as responsabilidades de uma cineasta, ainda que tenha acumulado previamente quatro créditos na função.

O título brasileiro para “Marie-Francine” não é uma unanimidade, mas sintetiza muito bem a premissa que Lemercier desenvolveu em parceria com Sabine Haudepin. Trata-se do recomeço que as circunstâncias forçam uma mulher a assumir: cinquentona, Marie-Francine se vê, sem aviso prévio, sem marido, emprego e lar.

Agora, ela depende exclusivamente de seus pais (interpretados por Philippe Laudenbach e Hélène Vincent), dando a ela um teto e uma ocupação como a única vendedora em uma loja de cigarros eletrônicos recém-inaugurada. O inferno astral que se instaurou em sua vida só não a consome porque percebe ao conhecer Miguel (Patrick Timsit, o carisma em pessoa), um cozinheiro que atua no restaurante ao lado de seu trabalho, que ainda há dentro de si um poder de sedução que parecia dissipado em seu relacionamento com Emmanuel (Denis Podalydès), que a largou para namorar uma jovem garota.

Enxuta, a comédia romântica é dessas que descem redondo justamente por algumas escolhas que dinamizam o fluxo narrativo. Exemplo disso é como Valérie Lemercier apresenta soluções em que o didatismo não é um elemento atuante, especialmente no primeiro ato em que Marie-Francine se descobre traída e desempregada. É também digna de aplausos por ainda acumular um papel secundário como a irmã gêmea da protagonista, Marie-Noëlle.

O melhor de “50 São os Novos 30”, no entanto, é a ternura com o qual tece o encontro de duas pessoas de idade avançada sem a independência plena conquistada, extraindo graça não pela situação mal sucedida que se encontram, mas sim de como se fortalecem quando abraçam as suas inadequações e assim se refortalecerem. Definitivamente, não há nada mais romântico do que anotar em um limão o número de telefone para a pessoa com a qual se teve uma tarde agradável.

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