Resenha Crítica | Flor do Deserto (2009)

Flor do Deserto | Desert Flower | WüstenblumeA história da modelo Waris Dirie é impressionante. Nascida na Somália, sofreu com apenas três anos de vida mutilação genital. Aos doze, seu pai a prometeu para um casamento com um homem de sessenta anos. Na mesma ocasião, atravessou sozinha um deserto para fugir do destino cruel que a aguardava. Passando por Mogadisco, capital da Somália, trabalhou para parentes em uma Embaixada em Londres. Após alguns anos, viveu nas ruas sem saber falar inglês e ganhou uma nova chance ao fazer amizade com uma estranha. Sem dúvidas, Waris Dirie tem tantas experiências de vida que o cinema não poderia perder a oportunidade de retratá-la. Foi isto que a americana Sherry Horman fez em “Flor do Deserto”, dirigindo e roteirizando a partir do livro escrito pela própria Waris Dirie.

O filme segue fielmente os relatos de Waris, embora não exatamente em uma ordem cronológica. A partir do momento que a beleza singular de Waris Dirie é descoberta pelo fotógrafo Terry Donaldson (Timothy Spall) enquanto ela trabalha como faxineira na unidade do McDonald que sempre frequenta, vemos aos poucos a infância perdida da personagem. Sally Hawkins, mostrando novamente a irresistível graça e sensibilidade de “Simplesmente Feliz“, vive a melhor amiga de Waris, a descontraída Marylin.

Não há dúvidas de que Sherry Horman tem uma história poderosa para contar, mas ela não pôde se livrar de algumas limitações e armadilhas. Há um trabalho de fotografia excelente por parte de Ken Kelsch (“Os Impostores”). Entretanto, as tomadas filmadas nas ruas de Londres são editadas com desordem, onde os minutos iniciais causam estranhamento, sendo possível ver algumas pessoas olhando diretamente para a câmera. Outro equívoco irreparável é a presença inconvincente de um personagem, Harold Jackson, que surge como interesse romântico de Waris Dirie.

Avaliado por outro ângulo, “Flor do Deserto” tem muito para mostrar. É um filme totalmente oportuno com sua denúncia, ganhando peso com um testemunho devastador de Waris Dirie para uma jornalista onde explica, detalhadamente, os métodos cirúrgicos de sua circuncisão – de forma jamais gratuita, este momento é encenado. Somando sua história com os assustadores letreiros finais onde se confirma que  em torno de seis mil mulheres são vítimas desta prática intolerável diariamente, “Flor do Deserto” é um filme obrigatório.

Título Original: Desert Flower | Wüstenblume
Ano de Produção: 2009
Direção: Sherry Horman
Elenco: Liya Kebede, Sally Hawkins, Craig Parkinson, Meera Syal, Anthony Mackie, Juliet Stevenson, Soraya Omar-Scego e Timothy Spall
Cotação: 3 Stars

Resenha Crítica | Atividade Paranormal (2007)

Atividade Paranormal | Paranormal ActivityDá um orgulho danado ver filmes como “Atividade Paranormal” fazendo sucesso e provocando as reações jamais imaginadas. O filme de Oren Peli é o filme mais lucrativo da história do cinema (quase duzentos milhões arrecadados mundialmente contra um orçamento pífio de quinze mil dólares), teve uma passagem bem-sucedida por festivais de horror e cinema independente, acumulou comentários positivos do público e da crítica e já tem sequência dirigida por Tod Williams (do ótimo drama “Provocação”) pronta para estrear no próximo mês. Nada mal, ainda mais para um filme que incomoda usando os recursos mais simples que se arquiteta para assustar.

Katie e Micah (a excelente Katie Featherston e Micah Sloat, intérpretes inexperientes que embolsaram apenas quinhentos dólares de cachê, mas que obviamente participaram da alta divisão dos lucros na bilheteria) formam um casal e vivem em uma aconchegante residência (o cenário de “Atividade Paranormal” é a casa do próprio Oren Peli) que passa a ser assombrada todas as madrugadas. Katie acredita que um espírito ou demônio a persegue, pois teve experiências similares na infância. Micah então decide registrar tudo com sua câmera cujos recursos permitem a filmagem em ambientes escuros, deixando ela fixa no quarto onde dormem. Os ataques se intensificam na medida que pesquisam e tentam compreender o que a coisa por trás disto pretende.

Embora “[REC]” tenha um realismo impressionante, desde “A Bruxa de Blair” não se via um terror que estarrece tanto ao mostrar tão pouco. Mesmo feito por um iniciante, “Atividade Paranormal” tem sacadas de gênio. A primeira é fazer de um cenário seguro o mais assustador. Afinal, existe coisa mais amedrontadora do que ser perturbado por algo oculto na própria casa, deitado na própria cama? A outra é fazer com que o espectador fique perturbado de acordo com o poder de sua imaginação, que processará o horror através do que poderá absolver apenas com o que é sugerido na tela. Entretanto, aí está uma pegadinha. A possibilidade de muitas se frustrarem com “Atividade Paranormal” é muito grande. Infelizmente, o terror depende um pouco de nosso esforço para funcionar, pois nem todos se envolvem com a macabra atmosfera oferecida pelo filme e não é convincente a atitude dos personagens diante do perigo agravante. Impossível acreditar que um ser humano comum seja capaz de dormir bem e permanecer sempre em um mesmo ambiente depois de tantos eventos sobrenaturais. É uma experiência traumática que deverá render apenas uma noite mal dormida, ainda que seja algo suficientemente satisfatório em um gênero que se locomove atualmente entre trancos e barrancos.

Título Original: Paranormal Activity
Ano de Produção: 2007
Direção: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Amber Armstrong e Ashley Palmer

10 Melhores Interpretações da Década

A famosa Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos, ao qual orgulhosamente faço parte, teve uma iniciativa bacana durante estes últimos dias: convidar os seus membros para enviar duas listas. Uma deve conter os melhores desempenhos masculinos da década passada. A outra se destina aos desempenhos femininos, também apreciados na década passada. Como são centenas de desempenhos, provavelmente muitos ficarão de fora no resultado final, inclusive alguns que apontei. Desta maneira, decidi encaminhar agora o e-mail para a SBBC e compartilhar com vocês quais foram as minhas escolhas. Selecionar apenas dez de cada sexo me deu um aperto no coração e é exatamente por isto que não serei muito específico enquanto a ordem de preferência. Depois comentem o que acharam! 😉

10 INTERPRETAÇÕES FEMININAS

Ashley Judd, em "Possuídos"

Ashley Judd, em "Possuídos"

Audrey Tautou, em "Bem Me Quer, Mal Me Quer"

Audrey Tautou, em "Bem Me Quer, Mal Me Quer"

Carice van Houten, em "A Espiã"

Carice van Houten, em "A Espiã"

Cate Blanchett, em "O Dom da Premonição"

Cate Blanchett, em "O Dom da Premonição"

Charlize Theron, em "Monster - Desejo Assassino"

Charlize Theron, em "Monster - Desejo Assassino"

Diane Lane, em "Sob o Sol da Toscana"

Diane Lane, em "Sob o Sol da Toscana"

Hilary Swank, em "Menina de Ouro"

Hilary Swank, em "Menina de Ouro"

Isabelle Huppert, em "A Professora de Piano"

Isabelle Huppert, em "A Professora de Piano"

Nicole Kidman, em "Os Outros"

Nicole Kidman, em "Os Outros"

Uma Thurman, em "Kill Bill Vol. I"

Uma Thurman, em "Kill Bill Vol. I"

10 INTERPRETAÇÕES MASCULINAS

Ângelo Antônio, em "2 Filhos de Francisco"

Ângelo Antônio, em "2 Filhos de Francisco"

Ben Kingsley, em "Casa de Areia e Névoa"

Ben Kingsley, em "Casa de Areia e Névoa"

Crispin Glover, em "A Vingança de Willard"

Crispin Glover, em "A Vingança de Willard"

Don Cheadle, em "Hotel Ruanda"

Don Cheadle, em "Hotel Ruanda"

Eddie Marsan, em "Simplesmente Feliz"

Eddie Marsan, em "Simplesmente Feliz"

Geoffrey Rush, em "Contos Proibidos do Marquês de Sade"

Geoffrey Rush, em "Contos Proibidos do Marquês de Sade"

Jack Nicholson, em "As Confissões de Schmidt"

Jack Nicholson, em "As Confissões de Schmidt"

Jackie Earle Haley, em "Pecados Íntimos"

Jackie Earle Haley, em "Pecados Íntimos"

John Malkovich, em "O Retorno do Talentoso Ripley"

John Malkovich, em "O Retorno do Talentoso Ripley"

Johnny Depp, em "Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra"

Johnny Depp, em "Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra"


Abraços Partidos

Para o que era o trabalho seguinte do espanhol Pedro Almodóvar após o estrondoso sucesso de “Volver”, “Abraços Partidos” é bem desapontador. Isto porque embora estejam presentes todos os elementos de seu cinema a narrativa de “Abraços Partidos” não apresenta todo o vigor de obras recentes do cineasta como “Fale com Ela”, “Tudo Sobre Minha Mãe”, “Carne Trêmula” e o ousado “Má Educação”.
Belamente fotografado por Rodrigo Prieto e com música sempre inquietante do compositor Alberto Iglesias, “Abraços Partidos” mostra o passado de um diretor cego, interpretado por Lluís Homar pouco convincente. As lembranças narradas em flashbacks têm ligação com a aspirante a atriz Lena (Penélope Cruz), sua ex-esposa Judit (Blanca Portillo) e, claro, com o seu total envolvimento com o audiovisual. A conclusão pretende presentear o público cinéfilo com um tributo ao cinema que não anula o gosto amargo com que as surpresas são transmitidas, jamais arrebatando o público.
Título Original: Los abrazos rotos | Broken Embraces
Ano de Produção: 2009
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Lluís Homar, Penélope Cruz, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Rubén Ochandiano, Tamar Novas, Ángela Molina, Chus Lampreave, Kiti Manver e Lola Dueñas

Abraços Partidos | Los abrazos rotos | Broken EmbracesPara o que era o trabalho seguinte do espanhol Pedro Almodóvar após o estrondoso sucesso de “Volver”, “Abraços Partidos” é bem desapontador. Isto porque embora estejam presentes todos os elementos de seu cinema a narrativa de “Abraços Partidos” não apresenta todo o vigor de obras recentes do cineasta como “Fale com Ela”, “Tudo Sobre Minha Mãe”, “Carne Trêmula” e o ousado “Má Educação”.

Belamente fotografado por Rodrigo Prieto e com música sempre inquietante do compositor Alberto Iglesias, “Abraços Partidos” mostra o passado de um diretor cego, interpretado por um Lluís Homar pouco convincente. As lembranças narradas em flashbacks têm ligação com a aspirante a atriz Lena (Penélope Cruz), sua ex-esposa Judit (Blanca Portillo) e, claro, com o seu total envolvimento com o audiovisual. A conclusão pretende presentear o público cinéfilo com um tributo ao cinema que não anula o gosto amargo com que as surpresas são transmitidas, jamais arrebatando o público.

Título Original: Los abrazos rotos | Broken Embraces
Ano de Produção: 2009
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Lluís Homar, Penélope Cruz, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Rubén Ochandiano, Tamar Novas, Ángela Molina, Chus Lampreave, Kiti Manver e Lola Dueñas
Cotação: 3 Stars

Resenha Crítica | Maluca Paixão (2009)

“As palavras cruzadas tem um impulso natural de encher espaços vazios, que se refere também aos espaços vazios dentro de nós, que surgem por vivermos num mundo que nem sempre gosta do que é diferente. E na jornada da vida basta encontrar alguém tão normal quanto você.”
O prestígio que Sandra Bullock conseguiu no ano passado com os lançamentos da comédia “A Proposta” e do drama “Um Sonho Possível” fez muito bem para a carismática atriz. Mesmo assim, tanto sucesso pode trazer algumas consequências não muito agradáveis. Isto se aplica ao exagero como foi encarada a bem-intencionada investida cômica de Sandra com “Maluca Paixão”, sendo “agraciada” na última edição do Framboesa de Ouro com o prêmio de pior atriz. De qualquer forma, são compreensíveis as reações negativas: “Maluca Paixão” é uma comédia totalmente esquizofrênica. No bom sentido, talvez.
Mary Horowitz (Sandra Bullock) é a protagonista da trama. Usa os figurinos mais bizarros que podem compor um guarda-roupa feminino e sua profissão é elaborar palavras cruzadas para um jornal da cidade de Sacramento. Mesmo velha é uma solteirona que ainda vive com os pais (papéis de Howard Hesseman e Beth Grant) e que tem um hamster de estimação. Se transforma em uma versão tragicômica de Glenn Close em “Atração Fatal” quando tem um encontro às escuras com o cinegrafista da CNN Steve (Bradley Cooper). O sujeito não quer nada com Mary. Mesmo assim, ela o persegue, resultando em uma aventura romântica que envolvem mensagens extraídas de palavras cruzadas, dois amigos que a ajudarão nesta missão, um protesto contra a cirurgia que uma criança que nasceu com três pernas será submetida, um tornado, um jornalista sensacionalista (papel de Thomas Haden Church)…
Enfim, o que faz valer “Maluca Paixão”? Simples, pois dentro de tanta anormalidade parece existir um esforço mínimo de ser original ao fugir dos padrões de comédias românticas hoje tão maçantes. Ou talvez não. O que importa é que será preciso encarar a comédia de peito aberto para se divertir e aproveitar a presença de Sandra Bullock com toda aquela meiguice irresistível.
Título Original: All About Steve
Ano de Produção: 2009
Direção: Phil Traill
Elenco: Sandra Bullock, Bradley Cooper, Thomas Haden Church, Ken Jeong, DJ Qualls, Keith David, Howard Hesseman, Beth Grant, Katy Mixon e Holmes Osborne

Maluca Paixão | All About Steve“As palavras cruzadas têm um impulso natural de encher espaços vazios, que se refere também aos espaços vazios dentro de nós, que surgem por vivermos num mundo que nem sempre gosta do que é diferente. E na jornada da vida basta encontrar alguém tão normal quanto você.”

O prestígio que Sandra Bullock conseguiu no ano passado com os lançamentos da comédia “A Proposta” e do drama “Um Sonho Possível” fez muito bem para a carismática atriz. Mesmo assim, tanto sucesso pode trazer algumas consequências não muito agradáveis. Isto se aplica ao exagero como foi encarada a bem-intencionada investida cômica de Sandra em “Maluca Paixão”, sendo “agraciada” na última edição do Framboesa de Ouro com o prêmio de pior atriz. De qualquer forma, são compreensíveis as reações negativas: “Maluca Paixão” é uma comédia totalmente esquizofrênica. No bom sentido, talvez.

Mary Horowitz (Sandra Bullock) é a protagonista da trama. Usa os figurinos mais bizarros que podem compor um guarda-roupa feminino e sua profissão é elaborar palavras cruzadas para um jornal da cidade de Sacramento. É uma solteirona que ainda vive com os pais (papéis de Howard Hesseman e Beth Grant) e que tem um hamster de estimação. Se transforma em uma versão tragicômica de Glenn Close em “Atração Fatal” quando tem um encontro às escuras com o cinegrafista da CNN Steve (Bradley Cooper). O sujeito não quer nada com Mary. Mesmo assim, ela o persegue, resultando em uma aventura romântica que envolve mensagens reflexivas extraídas de palavras cruzadas, dois amigos que a ajudarão nesta missão, um protesto contra a cirurgia que uma criança que nasceu com três pernas será submetida, um tornado, um jornalista sensacionalista (papel de Thomas Haden Church)…

Enfim, o que faz valer “Maluca Paixão”? Simples, pois dentro de tanta anormalidade parece existir um esforço mínimo de ser original ao fugir dos padrões de comédias românticas hoje tão maçantes. Ou talvez não. O que importa é que será preciso encarar a comédia de peito aberto para se divertir e aproveitar a presença de Sandra Bullock com toda aquela meiguice sempre irresistível.

Título Original: All About Steve
Ano de Produção: 2009
Direção: Phil Traill
Elenco: Sandra Bullock, Bradley Cooper, Thomas Haden Church, Ken Jeong, DJ Qualls, Keith David, Howard Hesseman, Beth Grant, Katy Mixon e Holmes Osborne
Cotação: 3 Stars

Resenha Crítica | Vidas Cruzadas | A Vida Íntima de Pippa Lee (2009)

Qualquer filme capaz de reunir um grande elenco atiça uma grande curiosidade. É o que acontece com “A Vida Íntima de Pippa Lee”, bizarramente batizado quando lançado em DVD como ‘Vidas Cruzadas” – o poster também foi horroroso. Porém, Rebecca Miller, em seu quarto longa-metragem, não soube se sobressair. Diretora de “O Tempo de Cada Um” e creditada como roteirista de “A Prova”, a esposa de Daniel Day-Lewis e filha do dramaturgo Arthur Miller com a fotógrafa Inge Morath desenvolve em “A Vida Íntima de Pippa Lee” o seu trabalho mais pessoal.
Publicado pela Editora Record com a chegada da adaptação cinematográfica nos cinemas, “A Vida Íntima de Pippa Lee” foi escrito pela própria Rebecca Miller. A história mostra Pippa Lee (Robin Wright), já velha, questionando os rumos que sua vida levou. Casada com Herb Lee (Alan Arkin), desvendamos o surgimento deste relacionamento em um passado bem distante e muito mais interessante de ser acompanhado com Blake Lively incorporando muito bem essa personagem em sua fase jovial.
Prejudicado pela fraquíssima performance de Robin Wright (ex-esposa de Sean Penn e na maior parcela de seus trabalhos ótima atriz), é impressionante testemunhar que estamos diante de personagens secundários muito mais interessantes do que a própria protagonista. Pippa Lee na juventude é uma mulher cheia de camadas, mas é a fotógrafa lésbica de Julianne Moore, a desequilibrada mãe de Pippa feita por Maria Bello e até mesmo a amante suícida de Herb feita em ponta por Monica Bellucci que verdadeiramente chamam a nossa atenção. Mesmo assim, não mantem em equilíbrio a história chata composta por Rebecca Miller, com reflexões descartáveis sobre autoconhecimento.
Título Original: The Private Lives of Pippa Lee
Ano de Produção: 2009
Direção: Rebecca Miller
Elenco: Robin Wright, Alan Arkin, Blake Lively, Keanu Reeves, Mike Binder, Winona Ryder, Maria Bello, Zoe Kazan, Shirley Knight, Monica Bellucci e Julianne Moore

Vidas Cruzadas | A Vida Íntima de Pippa Lee | The Private Lives of Pippa LeeQualquer filme capaz de reunir um grande elenco atiça uma grande curiosidade. É o que acontece com “A Vida Íntima de Pippa Lee”, bizarramente rebatizado quando lançado em DVD como “Vidas Cruzadas” – o poster também foi horroroso. Porém, Rebecca Miller, em seu quarto longa-metragem, não soube se sobressair. Diretora de “O Tempo de Cada Um” e creditada como roteirista de “A Prova”, a esposa de Daniel Day-Lewis e filha do dramaturgo Arthur Miller com a fotógrafa Inge Morath desenvolve em “A Vida Íntima de Pippa Lee” o seu trabalho mais pessoal.

Publicado pela Editora Record com a chegada da adaptação cinematográfica nos cinemas, “A Vida Íntima de Pippa Lee” foi escrito pela própria Rebecca Miller. A história mostra Pippa Lee (Robin Wright), já velha, questionando os rumos que sua vida levou. Casada com Herb Lee (Alan Arkin), desvendamos o surgimento deste relacionamento em um passado bem distante e muito mais interessante de ser acompanhado com Blake Lively incorporando muito bem essa personagem em sua fase jovial.

Prejudicado pela fraquíssima performance de Robin Wright (ex-esposa de Sean Penn e na maior parcela de seus trabalhos ótima atriz), é impressionante testemunhar que estamos diante de personagens secundários muito mais interessantes do que a própria protagonista. Pippa Lee na juventude é uma mulher cheia de camadas, mas é a fotógrafa lésbica de Julianne Moore, a desequilibrada mãe de Pippa feita por Maria Bello e até mesmo a amante suicida de Herb feita em ponta por Monica Bellucci que verdadeiramente chamam a nossa atenção. Mesmo assim, não mantem em equilíbrio a história chata composta por Rebecca Miller, com reflexões descartáveis sobre autoconhecimento.

Título Original: The Private Lives of Pippa Lee
Ano de Produção: 2009
Direção: Rebecca Miller
Elenco: Robin Wright, Alan Arkin, Blake Lively, Keanu Reeves, Mike Binder, Winona Ryder, Maria Bello, Zoe Kazan, Shirley Knight, Monica Bellucci, Tom Guinee e Julianne Moore
Cotação: 2 Stars

Invictus

InvictusClint Eastwood se transformou em um profissional completo com a consagração de “Menina de Ouro”. Não que o famoso Dirty Harry jamais tenha experimentado glória parecida como produtor, intérprete e cineasta (além de uma pequena carreira como compositor), mas o drama estrelado por Hilary Swank, Morgan Freeman e por ele mesmo definitivamente é sua obra máxima. Ainda assim, entregou as suas versões de uma mesma guerra com “A Conquista da Honra” e “Cartas de Iwo Jima” e o sensacional “Gran Torino” com uma energia invejável. No entanto, esta vitalidade nem sempre se repete com a mesma intensidade, a exemplo do mediano “A Troca” e agora com “Invictus”.

Enquanto se prepara para lançar no circuito americano o suspense escrito por Peter Morgan “Hereafter”, alguns podem se contentar com esta história edificante onde Morgan Freeman faz Nelson Mandela após o longo período preso com a sua luta contra o apartheid na África do Sul. Como presidente fez do rugby, um esporte um pouco similar ao futebol notório pelo intenso contato físico entre todos os jogadores, uma saída para unir uma população dividida pelo histórico regime de segregação racial. Para isto, conta com os esforços do capitão Francois Pienaar (Matt Damon, em performance superestimada).

Clint Eastwood permite que emoções brotem com o poder da imagem de seu cinema, especialmente com a tensão presente nas sequências de rugby. Isto não é o suficiente para compensar o peso que o próprio exerce sobre o roteiro de Anthony Peckham, que adapta o livro de John Carlin. Isto se reflete na própria figura de poucas camadas de Nelson Mandela, retratado como um ser humano tão perfeito ao ponto de retirar a intensidade de sua luta por um país mais pacífico.

O espectador interessado na história do ativista pode procurar por “Mandela – A Luta Pela Liberdade”, de Bille August. Irregular na mesma proporção, este filme com Dennis Haysbert no papel de Mandela que se dedica a retratar sua prisão de quase três décadas ao menos poderá servir de complemento ao filme de Eastwood.

Título Original: Invictus
Ano de Produção: 2009
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Patrick Mofokeng, Matt Stern, Julian Lewis Jones, Adjoa Andoh, Marguerite Wheatley, Leleti Khumalo, Patrick Lyster, Penny Downie e Scott Eastwood
Cotação: 3 Stars

O Amor Pede Passagem

Entre o trio de atrizes centrais de “Friends”, Jennifer Aniston se mostrou a menos versátil com o fim do seriado. A atriz estrelou apenas comédias e sua única inclusão em algum gênero diferente foi no thriller com “Fora de Rumo”, apresentando de longe o seu pior desempenho. Isto não significa que Jennifer não seja boa atriz. Estava perfeita em “Por Um Sentido na Vida” e respondeu por ótimos momentos no independente “Amigas com Dinheiro”. “O Amor Pede Passagem”, seu primeiro filme como produtora executiva, felizmente integra a sua lista de boas investidas no cinema. A atriz acerta ao aparecer mais linda do que nunca em um papel sem indícios de glamour e até há espaço para transformar a sua Sue em uma mulher sensível.
Mas não se enganem. O verdadeiro protagonista da história é mesmo Steve Zahn. Sempre divertido em comédias, Zahn incorpora Mike, um sujeito boa-praça. Por trabalhar sempre no hotel gerenciado pelos seus pais (papéis de Fred Ward e Margo Martindale), sente-se meio frustrado, sem grandes perspectivas de vida. A aparição de Sue (Jennifer Aniston) não só prova que ele é um desastre na hora de galantear as mulheres como também o faz se apaixonar. Acontece uma relação sexual, umas afinidades e logo Sue, que passou pelo hotel a trabalho, volta para a cidade onde mora. É claro que Mike não deixa a oportunidade de revê-la escapar.
Sendo declaradamente uma comédia, “O Amor Pede Passagem” até surpreende ao investir sutilmente no drama sem perder a graça. Mike é um ser tão trágico que causa até empatia e os risos que suas situações emitem são verdadeiros. Essa qualidade é abalada apenas pela presença de Woody Harrelson. Seu papel é tão ruim que cria até desarmonia no desenvolvimento da história. Ainda assim, o casal incomum que formam Steve Zahn e Jennifer Aniston é tão simpático que é impossível não torcer para que eles passem pelo indispensável processo de amadurecimento e fiquem juntos na conclusão do filme.
Título Original: Management
Ano de Produção: 2008
Direção: Stephen Belber
Elenco: Steve Zahn, Jennifer Aniston, Woody Harrelson, Fred Ward, Margo Martindale e James Hiroyuki Liao

O Amor Pede Passagem | ManagementEntre o trio de atrizes centrais de “Friends”, Jennifer Aniston se mostrou a menos versátil com o fim do seriado. A atriz estrelou apenas comédias e sua única inclusão em algum gênero diferente foi no thriller com “Fora de Rumo”, apresentando de longe o seu pior desempenho. Isto não significa que Jennifer não seja boa atriz. Estava perfeita em “Por Um Sentido na Vida” e respondeu por ótimos momentos no independente “Amigas com Dinheiro”. “O Amor Pede Passagem”, seu primeiro filme como produtora executiva, felizmente integra a sua lista de boas investidas no cinema. A atriz acerta ao aparecer mais linda do que nunca em um papel sem indícios de glamour e até há espaço para transformar a sua Sue em uma mulher sensível.

Mas não se enganem. O verdadeiro protagonista da história é mesmo Steve Zahn. Sempre divertido em comédias, Zahn incorpora Mike, um sujeito boa-praça. Por trabalhar sempre no hotel gerenciado pelos seus pais (papéis de Fred Ward e Margo Martindale), sente-se meio frustrado, sem grandes perspectivas de vida. A aparição de Sue (Jennifer Aniston) não só prova que ele é um desastre na hora de galantear as mulheres como também o faz se apaixonar. Acontece uma relação sexual, umas afinidades e logo Sue, que passou pelo hotel a trabalho, volta para a cidade onde mora. É claro que Mike não deixa a oportunidade de revê-la escapar.

Sendo declaradamente uma comédia, “O Amor Pede Passagem” surpreende ao investir sutilmente no drama sem perder a graça. Mike é um ser tão trágico que causa até empatia e os risos que suas situações emitem são verdadeiros. Essa qualidade é abalada apenas pela presença de Woody Harrelson. Seu papel é tão ruim que cria até desarmonia no desenvolvimento da história. Ainda assim, o casal incomum que formam Steve Zahn e Jennifer Aniston é tão simpático que é impossível não torcer para que eles passem pelo indispensável processo de amadurecimento e fiquem juntos na conclusão do filme.

Título Original: Management
Ano de Produção: 2008
Direção: Stephen Belber
Elenco: Steve Zahn, Jennifer Aniston, Woody Harrelson, Fred Ward, Margo Martindale e James Hiroyuki Liao
Cotação: 3 Stars

Encontro de Casais

Encontro de Casais | Couples Retreat A sequência de créditos iniciais de “Encontro de Casais” é tão simpática. É uma colagem ágil de trechos e fotografias de muitos casais ao som de “Modern Love”, do grande David Bowie. Exalta a paixão entre pares de uma maneira tão prazerosa que até ficamos aguardando pelo que as histórias dos casais Dave e Ronnie (Vince Vaughn e Malin Åkerman), Joey e Lucy (Jon Favreau e Kristin Davis), Jason e Cynthia (Jason Bateman e Kristen Bell) e Shane e Trudy (Faizon Love e Kali Hawk) nos reservarão. Certamente muita revolta, pois poucas vezes em tempos mais recentes se viu uma comédia popular que fosse tão desagradável. Vamos ser mais diretos: um lixo!

“Encontro de Casais” é uma reunião de comediantes de egos inflados acreditando que são engraçados. Neste caso, Vince Vaughn (sim, aquele sujeito que fez o novo Norman Bates que ninguém ousaria incorporar para evitar o mesmo ridículo) e Jon Favreau, que além de atuar acha que, excetuando o inegavelmente divertido “Um Duende em Nova York”, sabe dirigir. Acrescente aí um pobre coitado chamado Peter Billingsley em seu primeiro filme e meia dúzia de intérpretes que encararam a piada pelo cachê ou por serem simplesmente puxa-sacos.

Os quatro casais da história possuem alguma crise e decidem viajarem para uma pousada em meio a paisagens paradisíacas. Vem à tona questões de frustração, infidelidade e incertezas. Nada que se sobressaia mais do que a história cheia de passagens de puro mal gosto. Talvez a pior dela seja com Faizon Love. Negro, feio e obeso, o filme ridiculariza seu personagem em um instante que fica nu. Não há espaço para risadas, apenas indignação pela piada totalmente preconceituosa. Além de tudo isso, ainda há outro momento próximo do final que temos uma disputa de… Guitar Hero. Por favor!

Título Original: Couples Retreat
Ano de Produção: 2009
Direção: Peter Billingsley
Elenco: Vince Vaughn, Malin Åkerman, Jason Bateman, Kristen Bell, Jon Favreau, Kristin Davis, Faizon Love, Kali Hawk, Tasha Smith, Carlos Ponce, Peter Serafinowicz, Jean Reno, Temuera Morrison e Ken Jeong
Cotação: bomba

A Vida Secreta das Abelhas

No cinema americano das décadas de 1980 e 1990 era comum assistir a filmes com dramas femininos sendo expostos. Alguns títulos como “Flores de Aço”, “Tomates Verdes Fritos”, “Adoráveis Mulheres” e “Colcha de Retalhos” focavam mulheres que independente do tempo se mostraram fortes e independentes diante das adversidades. Infelizmente, o cinema contemporâneo pouco colabora para manter em evidência essas figuras. Entre muitos méritos o novo filme de Gina Prince-Bythewood (do elogiado “Além dos Limites”) se sobressai exatamente por reascender o interesse por estes registros.
Adaptação da obra literária da escritora Sue Monk Kidd, “A Vida Secreta das Abelhas” tem como protagonista a pequena Lily Owens (a sempre notável Dakota Fanning). Ela é maltratada pelo próprio pai Ray (papel de Paul Bettany), tem forte ligação com a morte de sua mãe Deborah (Hilarie Burton) e só encontra consolo na amiga e empregada Rosaleen (Jennifer Hudson) que, por sua vez, vive tempos de intolerância por causa de todas as lutas dos negros pelos direitos civis na Carolina do Sul de 1964. A situação se torna alarmante quando Rosaleen é brutalmente espancada. Sabendo que sua mãe um dia fugiu de Ray e viveu em uma casa onde três irmãs negras que vivem da apicultura, Lily foge unida com Rosaleen para pesquisar mais sobre o passado de Deborah. Lá são acolhidas por August (Queen Latifah), June (Alicia Keys) e May (Sophie Okonedo).
O drama, valorizado pela fotografia cuidadosa de Rogier Stoffers (“Contos Proibidos do Marquês de Sade”) e a bela música instrumental composta por Mark Isham (“O Nevoeiro”), se dedica a narrar as dificuldades de uma raça diante de os preconceitos absurdos de uma sociedade, embora dê um relevo maior aos dramas pessoais de suas personagens centrais. Neste ângulo, Gina Prince-Bythewood nem sempre deixa de deixar melosa algumas situações. Mesmo assim, mantém o controle na maioria do tempo chegando a emocionar a plateia, especialmente com a delicada personagem May, maravilhosamente interpretada por Okonedo, sempre abalada pela morte de uma de suas irmãs e cujos desabafos são escritos e colocados em uma pequena muralha. No geral, temos um filme acima da média que também preserva a importância do autoconhecimento através de mulheres fascinantes.
Título Original: The Secret Life of Bees
Ano de Produção: 2008
Direção: Gina Prince-Bythewood
Elenco: Dakota Fanning, Queen Latifah, Jennifer Hudson, Alicia Keys, Sophie Okonedo, Paul Bettany, Hilarie Burton, Tristan Wilds, Nate Parker, Shondrella Avery, Renée Clark, Sharon Morris, Emma Sage Bowman e Nicky Buggs

A Vida Secreta das Abelhas | The Secret Life of BeesNo cinema americano das décadas de 1980 e 1990 era comum assistir a filmes com dramas femininos sendo expostos. Alguns títulos como “Flores de Aço”, “Tomates Verdes Fritos”, “Adoráveis Mulheres” e “Colcha de Retalhos” focavam mulheres que, não importando a época, se mostraram fortes e independentes diante das adversidades. Infelizmente, o cinema contemporâneo pouco colabora para manter em evidência essas figuras. Entre muitos méritos o novo filme de Gina Prince-Bythewood (do elogiado “Além dos Limites”) se sobressai exatamente por reascender o interesse por estes registros.

Adaptação da obra literária da escritora Sue Monk Kidd, “A Vida Secreta das Abelhas” tem como protagonista a pequena Lily Owens (a sempre notável Dakota Fanning). Ela é maltratada pelo próprio pai Ray (papel de Paul Bettany), tem forte ligação com a morte de sua mãe Deborah (Hilarie Burton) e só encontra consolo na amiga e empregada Rosaleen (Jennifer Hudson) que, por sua vez, vive tempos de intolerância por causa de todas as lutas dos negros pelos direitos civis na Carolina do Sul de 1964. A situação se torna alarmante quando Rosaleen é brutalmente espancada. Sabendo que sua mãe um dia fugiu de Ray e viveu em uma casa onde três irmãs negras que trabalham com apicultura, Lily foge unida com Rosaleen para pesquisar mais sobre o passado de Deborah. Lá são acolhidas por August (Queen Latifah), June (Alicia Keys) e May (Sophie Okonedo).

O drama, valorizado pela fotografia cuidadosa de Rogier Stoffers (“Contos Proibidos do Marquês de Sade”) e a bela música instrumental composta por Mark Isham (“O Nevoeiro”), se dedica a narrar as dificuldades de uma raça diante dos preconceitos absurdos de uma sociedade, embora dê um relevo maior aos dramas pessoais de suas personagens centrais. Neste ângulo, Gina Prince-Bythewood nem sempre evita em deixar melosa algumas situações. Mesmo assim, mantém o controle na maioria do tempo chegando a emocionar a plateia, especialmente com a delicada personagem May, maravilhosamente interpretada por Okonedo, sempre abalada pela morte de uma de suas irmãs e cujas confissões são escritas em pedaços de papel e colocados em uma pequena muralha. No geral, temos um filme acima da média que também preserva a importância do autoconhecimento através de mulheres fascinantes.

Título Original: The Secret Life of Bees
Ano de Produção: 2008
Direção: Gina Prince-Bythewood
Elenco: Dakota Fanning, Queen Latifah, Jennifer Hudson, Alicia Keys, Sophie Okonedo, Paul Bettany, Hilarie Burton, Tristan Wilds, Nate Parker, Shondrella Avery, Renée Clark, Sharon Morris, Emma Sage Bowman e Nicky Buggs
Cotação: 3 Stars