Instinto de Vingança

O escritor norte-americano Edgar Allan Poe é reconhecido como um dos pioneiros do romance policial, surgido em meados do século XIX. O conto “The Tell-Tale Heart”, publicado em 1843, é um dos mais famosos de sua autoria e foi adaptado para cinema aproximadamente uma dúzia de vezes em formato de curta-metragem. Tendo Ridley Scott e Tony Scott envolvidos como produtores a esperança era de que “Instinto de Vingança” seria a adaptação definitiva e de qualidade do conto. Isto se o diretor Michael Cuesta, mais lembrado pelo envolvimento em alguns episódios de “Dexter” e “A Sete Palmos”, tivesse se empenhado mais para alcançar este resultado.

Na realidade, “Instinto de Vingança” extraiu apenas o conceito da história de Edgar Allan Poe. O personagem central Terry Bernard (Josh Lucas, promessa de astro que jamais se concretizou) tem uma vida difícil. É viúvo, pai de uma garotinha (papel de Beatrice Miller) com doença degenerativa e passou recentemente por transplante de coração. Terry parece ganhar um recomeço ao se envolver com a médica de sua filha, Elizabeth Clemson (Lena Headey), mas o seu coração bate literalmente mais forte sempre quando esbarra com alguns desconhecidos. Caso de um enfermeiro que mata acidentalmente. O aparecimento do detetive Phillip Van Doren (Brian Cox) ajuda a esclarecer seus impulsos: o dono real do coração transplantado foi vítima de um crime.

Premissas malucas sobre órgãos com vontade própria podem ser promissoras como thriller. Ou se transformarem em um verdadeiro papelão, como é o que se vê em “Instinto de Vingança”. A todo o momento a ação da realização de Michael Cuesta soa absurda e pontos interessantes que poderiam ser mais explorados, como a incurável doença da pequena personagem de Beatrice Miller, são substituídas por reviravoltas mais esquecíveis do que surpreendentes, como o acontecimento que fecha o filme. Além do mais, as coincidências com “The Brøken“, produção feita em 2008 pelo inglês Sean Ellis ainda inédita em nosso país, são gritantes. Reune novamente os atores Lena Headey e Ulrich Thomsen e um órgão também está por trás do mistério. O resultado final, claro, é muito diferente.

Título Original: Tell Tale
Ano de Produção: 2009
Direção: Michael Cuesta
Roteiro: Dave Callaham, baseado no conto “The Tell-Tale Heart”, de Edgar Allan Poe
Elenco: Josh Lucas, Lena Headey, Brian Cox, Beatrice Miller, Jamie Harrold, Michael K. Williams, Pablo Schreiber, Tom Riis Farrell, Cassandre Fiering, Dallas Roberts e Ulrich Thomsen
Cotação: *

 

Resenha Crítica | Insolação (2009)


Quando um projeto cinematográfico conta não apenas com um mas dois nomes na direção a promessa é de que será concentrado neste trabalho conjunto a especialidade de ambos. Estes casos são mais típicos do cinema norte-americano, geralmente apresentando dois irmãos como realizadores. A cenógrafa carioca Daniela Thomas já dividiu créditos com Walter Salles em “Linha de Passe”, em um curta-metragem de “Paris, Te Amo” e outro intitulado “Armas e Paz”, “O Primeiro Dia” e “Terra Estrangeira”. Abandonou a parceria com Walter Salles para embarcar em outra, agora com o diretor teatral Felipe Hirsch. O resultado é “Insolação”, talvez o pior filme nacional exibido no circuito em todo o ano de 2010.

A intenção de Daniela Thomas e Felipe Hirsch foi moldar uma espécie de poesia em celulóide de amores não correspondidos, de pessoas com corações partidos. A condução de “Insolação” é tão desastrosa que dificulta ao espectador encontrar identificação com o drama de seus personagens. O veterano Paulo José funciona como narrador e o único personagem a ter algum elo com os papéis centrais, defendidos por nomes respeitados como Simone Spoladore e Leonardo Medeiros.

O empenho do diretor de fotografia Mauro Pinheiro Jr. ao representar em imagens a coletânea de personagens abalados emocionalmente é notável pelo bom uso de espaços simétricos (as locações são de Brasília). Tal beleza jamais compensa o vazio da realização dos cineastas, onde os próprios intérpretes parecem desconfortáveis com os personagens de poucas dimensões que não os valorizam. Com isto, “Insolação” cria apenas antipatia, cujos esforços de Daniela Thomas e Felipe Hirsch parecem destinados apenas para si próprios. Não deu outra: o público não considerou a experiência válida, fazendo com que o longa-metragem evaporasse do circuito em poucos dias.

Título Original: Insolação
Ano de Produção: 2009
Direção: Daniela Thomas e Felipe Hirsch
Roteiro: Sam Lipsyte e Will Eno
Elenco: Paulo José, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Maria Luísa Mendonça, Arduíno Colassanti, Emílio Di Biasi, Jorge Emil, André Frateschi, Leandra Leal, Antonio Medeiros, Miguel Lunardi, Daniela Piepszyk e Eduardo Tornaghi

Resenha Crítica | Amor Por Contrato (2010)


O número de produtos tentadores no mercado é imenso e as empresas responsáveis por toda a fabricação não medem esforços para fazer com que o consumidor invista o seu suado dinheiro em algo que procura favorecê-lo em algum sentido ou que é adquirido por puro luxo. Automóveis, aparelhos eletrônicos, alimentos de qualidade, objetos de decoração, artigos esportivos, entre muito outros. Daí entra um forte trabalho de marketing, que visa despertar ainda mais todo um espírito consumista. Entretanto, há práticas que vão além de um envolvimento estritamente profissional, como o marketing invisível feito pela família Jones, protagonistas do original “Amor Por Contrato”.

A realização que registra o primeiro trabalho como diretor de longa-metragem do alemão Derrick Borte, antes um artista gráfico, inicia com a família Jones se mudando para uma nova residência situada em um bairro repleto de ricaços. O casal Steve (David Duchovny) e Kate Jones (Demi Moore) são pais dos jovens Mick (Ben Hollingsworth) e Jenn Jones (Amber Heard). Todos desfilam com produtos que rapidamente são desejados por todos os outros casais e alunos do colégio. Descobre-se com isto que os Jones na verdade são uma fraude. Eles devem se comportar naturalmente e apresentarem resultados expressivos para a empresa coordenada por KC (Lauren Hutton), que estipula o quanto cada um dos Jones consegue de vendas de acordo com os produtos que são responsáveis por divulgarem.

O andamento da narrativa promete que ao final cada um dos personagens finalmente serão desmascarados. O diferencial de “Amor Por Contrato” é questionar dois pontos interessantes. O primeiro se aplica até onde os profissionais do ramo de vendas são capazes de chegar mesmo que tenham que arranhar o seu caráter em favor da manipulação e o segundo é até quando a parte consumista se afunda financeiramente e emocionalmente estando preso numa vida de aparências, algo muito bem representado pelo casal Symonds (interpretados por Gary Cole e Glenne Headly). O também roteirista Derrick Borte desequilibra um pouco ao trazer à tona em um mesmo momento a verdadeira orientação  sexual de um personagem e o caso amoroso de outro. Nada que atinja negativamente o resultado de “Amor Por Contrato”, que convence em situações cômicas e outras bem dramáticas ao mostrar as consequências de toda a armação.

Título Original: The Joneses
Ano de Produção: 2010
Direção: Derrick Borte
Roteiro: Derrick Borte
Elenco: Demi Moore, David Duchovny, Amber Heard, Ben Hollingsworth, Lauren Hutton, Gary Cole, Glenne Headly, Christine Evangelista, Robert Pralgo, Tiffany Morgan, Joe Narciso, Ric Reitz, L. Warren Young, Andrew DiPalma e Hayes Mercure
Cotação: ****

Trabalho Sujo


A ausência de uma figura materna pode ser cruel para muitas crianças, especialmente quando são duas meninas cuja mãe se suicidou. As consequências se apresentam na falta de ajuste em um rumo a seguir, como é evidenciado nas protagonistas de “Trabalho Sujo”, terceiro longa-metragem de Christine Jeffs. É o primeiro sucesso de bilheteria (ainda que discreto) desta cineasta independente nascida na Nova Zelândia, que chega agora ao Brasil com quase dois anos de atraso perante sua estreia nos Estados Unidos em circuito limitado.

A vida da jovem Rose Lorkowski (Amy Adams) é uma bagunça. Ela, uma mãe solteira, não parece contente com o próprio negócio de faxineira e mantêm relações com Mac (Steve Zahn), um policial casado. É ele que lhe sugere entrar em um ramo nada disputado e lucrativo: a limpeza de cenas do crime. Norah (Emily Blunt) sempre cuidou do filho de Rose, Oscar (Jason Spevack) e jamais conseguiu um emprego fixo. Rose e Norah assim se tornam sócias e abrem o Sunshine Cleaning, mantendo em ordem ambientes que não faltam roupas e restos de alimentos espalhados, objetos pessoais, vermes, muito sangue e às vezes alguma parte do corpo esquecida pela perícia, como um dedo.

É mesmo um trabalho sujo e as personagens baterão de frente pela primeira vez com as adversidades presentes em suas vidas. Com esse plot, Christine Jeffs, como nos ótimos “Chuva de Verão” e “Sylvia – Paixão Além das Palavras”, se encontra à vontade para outra vez dar forma a personagens femininas tão fortes, de sentimentos tão conturbados. É uma pena que a roteirista estreante Megan Holley não tenha equilibrado muito bem o drama e comédia com a fusão que esperava. A dramédia é um elemento característico do cinema indie, mas as intervenções do pai interpretado por Alan Arkin ou mesmo do garotinho Oscar não funcionam. A situação paralela da busca de Norah pela filha de uma senhora morta em uma das cenas do crime que fez a limpeza também não comove. Ao menos Amy Adams e Emily Blunt, uma das maiores revelações de intérpretes nos últimos anos no cenário americano, ganharam bastante suporte para expressarem todo potencial dramático. As atrizes respondem por momentos bem verdadeiros, especialmente quando recordam da ausência da mãe, fazendo com que “Trabalho Sujo” seja um esforço irregular assistível.

Título Original: Sunshine Cleaning
Ano de Produção: 2008
Direção: Christine Jeffs
Roteiro: Megan Holley
Elenco: Amy Adams, Emily Blunt, Alan Arkin, Jason Spevack, Steve Zahn, Clifton Collins Jr., Mary Lynn Rajskub, Eric Christian Olsen, Paul Dooley, Kevin Chapman, Judith Jones, Amy Redford e Christopher Dempsey
Cotação: **

 

Resenha Crítica | As Múmias do Faraó (2010)


Luc Besson provavelmente é o cineasta francês mais prestigiado em Hollywood. Isto porque o diretor de “Subway”, “Imensidão Azul” e “Nikita – Criada Para Matar” mostrou que tinha energia de sobra para comandar a ação de “O Profissional”, “O Quinto Elemento” e “Joana d’Arc”. Infelizmente, na última década, Luc Besson não fez nada de marcante justamente por não saber preservar a sua imagem de cineasta imaginativo e que oferece diversão ao trabalhar com conceitos bem originais. Tem a autoria de dezenas de roteiros nos últimos dez anos, um pior que o outro.

Na pausa das aventuras que conduz atualmente do pequeno “Arthur”, Luc Besson reservou espaço para adaptar os quadrinhos Jacques Tardi da repórter aventureira Adèle Blanc-Sec (interpretada pela estonteante Louise Bourgoin). No primeiro ato emperrado, fica difícil definir se ela é a verdadeira protagonista de “As Múmias do Faraó”. Isto porque há duas linhas narrativas que serão unidas apenas na metade da projeção. A que foca Adèle Blanc-Sec se passa no Egito, onde a jovem busca por um sarcófago. Já nos acontecimentos paralelos em Paris o destaque fica com o professor paranormal Esperandieu (Jacky Nercessian), que faz com que um ovo de dinossauro se choque usando seus feitiços. Adèle Blanc-Sec procura pelo professor Esperandieu para que ele possa trazer de volta à vida sua irmã. O plano consiste em ressuscitar a múmia do médico de um faraó.

Luc Besson, em bons ou maus momentos, sempre conseguiu acrescentar em seus projetos alguma dose de adrenalina, estando presente também em sua nova realização. O problema é que o desenvolvimento da aventura é muito desorganizado, criando muita antipatia. Apenas quando sabemos o que aconteceu com a irmã de Adèle Blanc-Sec, em um flashback que apresenta um acontecimento original e chocante em uma quadra de tênis, é que a mão de Luc Besson parece menos pesada. Ao menos Luc Besson continua sendo um expert no momento de escolher as suas protagonistas femininas. Louise Bourgoin, revelada no ano passado como a mulher do tempo Audrey Varella em “A Garota de Mônaco”, é uma intérprete adorável e sua presença enriquece “As Múmias do Faraó”. Também não deixem de reparar na breve presença de um irreconhecível Mathieu Amalric.

Título Original: Les aventures extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec
Ano de Produção: 2010
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson, baseado nos quadrinhos de Jacques Tardi
Elenco: Louise Bourgoin, Gilles Lellouche, Jean-Paul Rouve, Jacky Nercessian, Philippe Nahon, Nicolas Giraud, Laure de Clermont-Tonnerre, Gérard Chaillou, Serge Bagdassarian e Mathieu Amalric
Cotação: **

A Sétima Alma

Em duas oportunidades o cineasta Wes Craven deu um verdadeiro agito no gênero horror. E em décadas diferentes. Em 1984 criou Freddy Krueger, até hoje um dos vilões mais famosos da história do cinema. Já em 1996 o feito foi ainda mais impressionante com “Pânico”. Responsável por todos os episódios da trilogia estrelada por Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette, Wes Craven coletou todos os padrões imagináveis do gênero para algo totalmente novo. Mesmo com toda sua importância, Wes Craven anda na corda bamba. Às vezes mantém o equilíbrio com fitas bacanas como “A Maldição dos Mortos Vivos” (produção de 1988 estrelado por Bill Pullman) e o recente “Voo Noturno”. Em outros momentos despenca para investidas incompreensíveis (como o drama “Música do Coração”, com Meryl Streep) ou uma mistura tosca de humor e horror (“Um Vampiro no Brooklyn”, talvez o seu pior filme).

“A Sétima Alma” registra o primeiro filme de Wes Craven como diretor e com roteiro original de sua autoria desde “O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger”. A impressão é que existe a vontade da criação de um novo grande vilão, mas O Estripador de Riverton periga ser esquecido pelo público já nos créditos finais de “A Sétima Alma”, automaticamente integrando a lista negra de filmes ruins do diretor. O Estripador de Riverton recebe uma rápida introdução no thriller e com a sua morte acontece o nascimento prematuro de sete bebês. Reza a lenda que nestas crianças, agora adolescentes de dezesseis anos, foram transferidas as almas d’O Estripador de Riverton, pai de família com múltiplas personalidades. A morte de Jay (Jeremy Chu) faz com que todos acreditem que o psicopata está de volta para roubar aquilo que lhe pertencia: suas almas, personalidades. O protagonista Bug (Max Thieriot, o filho de Julianne Moore e Liam Neeson em “O Preço da Traição“) é um suspeito em potencial, vendo o seu comportamento sinistro em situações isoladas.

Existem passagens no roteiro de “A Sétima Alma” bem divertidas. As principais têm humor com um pingo de tensão, especialidade de Wes Craven. A presença de Max e seu amigo Alex (John Magaro) na apresentação de um projeto escolar é engraçada e dá uma ponta de ansiedade em saber que fim dará a situação. Uma outra que envolve um celular escondido no banheiro feminino a fim de flagrar uma conversa entre garotas também é ótima. Já na hora de assustar verdadeiramente a plateia o velho Wes Craven se mostra um zero à esquerda. Não há quem ature mais perseguições insossas no meio da floresta e atitudes estúpidas de adolescentes ao enfrentar uma ameaça. Sem dizer o ato final, alongando até dizer chega ao revelar a identidade do responsável pelos crimes. Um lançamento nacional no formato 3D (e “A Sétima Alma” se tornou notório pelo fracasso nos cinemas estadunidenses mesmo com a solução capenga de pós-produção) tornariam as coisas ainda piores. O que era para ser um aquecimento para o retorno de Wes Craven a série “Pânico” (o quarto episódio será lançado em abriu de 2011) só nos deixa mais temerosos enquanto ao destino que aguarda a nossa mocinha Sidney Prescott.

Título Original: My Soul To Take
Ano de Produção: 2010
Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Elenco: Max Thieriot, John Magaro, Denzel Whitaker, Zena Grey, Nick Lashaway, Paulina Olszynski, Jeremy Chu, Emily Meade, Raúl Esparza, Jessica Hecht, Frank Grillo, Danai Gurira e Harris Yulin
Cotação: **

 

Machete


Quando “Grindhouse” foi lançado nos Estados Unidos a maior atração do projeto foi os seus impagáveis trailers falsos. Foi apresentado “Thanksgiving”, de Eli Roth, “Don’t”, de Edgar Wright, “Werewolf Women of the S.S.”, de Rob Zombie e o mais famoso de todos “Machete”, de Robert Rodriguez. O hilário segmento mostrava Danny Trejo como um herói que exterminava suas vítimas com uma peixeira. A brincadeira fez tanto sucesso que Robert Rodriguez, com a parceria de Ethan Maniquis, adaptou o vídeo de dois minutos para um longa-metragem de uma hora e meia. Entretanto, se “Machete” funcionava que era uma maravilha naquele formato agora tudo não passa de mais um projeto equivocado de Robert Rodriguez, que não deve acertar uma até que concentre suas atenções em “Sin City 2”, previsto para ser filmado apenas em 2012.

O roteiro, segundo as ambições de Robert e Álvaro Rodriguez, parece ser o que menos importa. É uma velha história de traição e vingança, com Machete Cortez (Danny Drejo, pela primeira vez em um “grande papel” após duas centenas de projetos) à procura de Torrez (Steven Seagal) por matar sua esposa no passado e também sendo enganado ao ser pago para assassinar o senador John McLaughlin (Robert De Niro). Acrescente aí mulheres sexy portando armas enormes, muito sangue falso e a presença de outras heroínas, Luz (Michelle Rodriguez) e Sartana Rivera (Jessica Alba, pior do que o filme em que atua), Pronto, está aí os elementos de uma história que ainda tem como pano de fundo a situação da imigração ilegal.

Mesmo à sombra de Quentin Tarantino (ambos são muito comparados profissionalmente pelas constantes parcerias e verdadeira amizade fora dos estúdios), Robert Rodriguez se mostrou um bom realizador tanto no espetacular “Sin City – A Cidade do Pecado” quanto em produções modestas que brincavam com chavões cinematográficos como “Um Drink no Inferno” e “Prova Final”. Atualmente, só anda perdendo o vigor. Isto porque seu trabalho obtém um resultado similar àquele visto recentemente em “Piranha“, de Alejandre Aja. Como comentado em outra oportunidade, Robert Rodriguez acredita que para conceber uma obra de culto é necessário apenas manusear algumas precariedades do gênero trash a favor de uma estrutura descolada, só que sem astúcia alguma. Dá a impressão de que Uwe Boll anda fazendo escola…

Título Original: Machete
Ano de Produção: 2010
Direção: Robert Rodriguez e Ethan Maniquis
Roteiro: Álvaro Rodríguez e Robert Rodriguez
Elenco: Danny Trejo, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, Robert De Niro, Steven Seagal, Jeff Fahey, Don Johnson, Lindsay Lohan, Cheech Marin, Shea Whigham, Daryl Sabara, Gilbert Trejo e Electra Avellan
Cotação: 1 Star

O Preço da Traição

Desde o momento que o cineasta nascido na Inglaterra Adrian Lyne abandonou o cinema com “Infidelidade” sem dar notícias de retorno pouco se viu filmes cujo conteúdo contemplava cotidiano de personagens frustrados que se envolviam em relações perigosas. Em sua filmografia, Atom Egoyan sempre mostrou evidências de flerte com essas características e de maneira ainda mais interessante. É o que se vê no recente “O Preço da Traição”, longa-metragem que Atom Egoyan comandou assim que lançou “Adoração” (lançado direto ao mercado de vídeo no Brasil). A ousadia que usa para conduzir sua história, uma releitura do francês “Nathalie X”, é surpreendente.

A narrativa inicia no aniversário do professor David Stewart (Liam Neeson, que interrompeu temporariamente sua participação no filme com a morte de sua esposa, a atriz Natasha Richardson). Sua mulher, a ginecologista renomada Catherine Stewart (Julianne Moore), o aguarda em sua bela casa com arquitetura em vidro com uma festa surpresa. Ele não aparece, alegando atraso ao embarcar em um voo. É a deixa para Catherine pensar que David está tendo um caso com alguma aluna, vendo o marasmo que atingiu o relacionamento a dois nos últimos anos e suspeitas mensagens de texto. As circunstâncias fazem Catherine se envolver com a jovem garota de programa Chloe (Amanda Seyfried, no melhor desempenho de sua promissora carreira), que a paga para seduzir David e comprovar a infidelidade do marido.

A obra original, dirigida por Anne Fontaine (“Coco Antes de Chanel“) em 2003, jogava muito com o que pode ser nomeado como “sexo oral”. Isto porque a produção chamava a atenção em como Nathelie (Emmanuelle Béart) descrevia sua relação com Bernard (Gérard Depardieu) para Catherine (Fanny Ardant). O público era capaz de imaginar as relações sexuais da prostituta com o homem de meia-idade apenas pela verborragia. Atom Egoyan dá um passo em frente, usufruindo da entrega de suas atrizes em cenas bem eróticas. O desfecho infelizmente não corresponde à força com que essa teia complicada se desenvolve, ainda assim compensado com a relação de Catherine e Chloe, mulheres bem construídas pela roteirista Erin Cressida Wilson cujos impulsos podem ser bem destrutivos e diabólicos.

Título Original: Chloe
Ano de Produção: 2009
Direção: Atom Egoyan
Roteiro: Erin Cressida Wilson, baseado no filme “Nathalie X”, de Anne Fontaine
Elenco: Julianne Moore, Amanda Seyfried, Liam Neeson, Max Thieriot, R.H. Thomson, Nina Dobrev, Julie Khaner, Laura DeCarteret, Natalie Lisinska, Tiffany Lyndall-Knight e Meghan Heffern
Cotação: ***

 

O Garoto de Liverpool

O Garoto de Liverpool | Nowhere BoyO cineasta inglês Iain Softley (reconhecido por sua versatilidade em projetos como “Asas do Amor”, “K-Pax – O Caminho da Luz” e “A Chave Mestra”) já havia prestado uma pequena homenagem a John Lennon quando ele ainda estava no início da carreira no longa-metragem dramático “Backbeat – Os 5 Rapazes de Liverpool”. Entretanto, o foco não era para o músico incorporado por Ian Hart, mas para Stuart Sutcliffe (interpretado por Stephen Dorff), integrante da fase inicial dos “The Beatles”. Agora Sam Taylor-Wood, diretora também nascida na Inglaterra em seu primeiro trabalho longe do formato de curta-metragem, transforma o seu “O Garoto de Liverpool” um filme direcionado totalmente para John Lennon.

Aaron Johnson, ator de apenas vinte anos que estourou com “Kick-Ass – Quebrando Tudo”, recebe a difícil missão de personificá-lo. A fase de sua vida retratada, como se imagina, é a adolescência. John vivia com a sua tia Mimi (Kristin Scott Thomas), casada com George (David Threlfall). Tratava-se de um trio muito ligado e a morte repentina de George oferece mudanças em John. Transforma-se em uma rapaz rebelde e interessado pela música a partir do momento que ouviu Elvis Presley. O seu passado também o intriga, pois sempre desejou rever os seus pais. É assim que encontra Julia (Anne-Marie Duff), sua mãe, casada com Bobby (David Morrissey).O reencontro é feliz. Mesmo assim, muitas coisas estão mal resolvidas.

Paralelo a este drama familiar, “O Garoto de Liverpool” vai mostrando a ascensão de John Lennon, especialmente ao liderar seu grupo de rock junto com Paul (Thomas Brodie-Sangster). Aqueles que são fãs dos “The Beatles” ficarão encantados em acompanhar estes primeiros passos ao mundo artístico, mas é aconselhável não se entusiasmarem, pois a intenção de “O Garoto de Liverpool” é em encontrar uma resolução na complicada situação que John, Mimi e Julia estão ligados. Talvez por isto o filme seja apenas mediano. Mesmo com os desempenhos conferindo a veracidade exigida, especialmente das espetaculares atrizes Kristin Scott Thomas e Anne-Marie Duff, “O Garoto de Liverpool” apenas processa rapidamente outros acontecimentos essenciais para a formação de caráter de John Lennon, especialmente pela paixão que desperta para a música. Por isto o filme ser pouco visto mesmo com todo o seu apelo.

Título Original: Nowhere Boy
Ano de Produção: 2010
Direção: Sam Taylor-Wood
Roteiro: Matt Greenhalgh, baseado nas memórias de Julia Baird
Elenco: Aaron Johnson, Kristin Scott Thomas, Anne-Marie Duff, David Morrissey, Thomas Brodie-Sangster, Ophelia Lovibond, Josh Bolt, David Threlfall, Kerrie Hayes, James Johnson, Frazer Bird, James Jack Bentham, Jack McElhone, Daniel Ross, Sam Wilmott, John Collins, Sam Bell e Colin Tierney
Cotação: 3 Stars

Cyrus

As dramédias independentes estão com tudo nestes últimos momentos de 2010. Tivemos o ótimo “Sentimento de Culpa” e o elogiadíssimo “Minhas Mães e Meu Pai” e “Cyrus” é um grande destaque. Ao contrário do que se lê por aí, não se trata do primeiro longa-metragem dos irmãos diretores. Antes de “Cyrus”, os Duplass rodaram os pequenos “The Puffy Chair” (2005) e “Baghead” (2008), mas é neste projeto encabeçado por John C. Reilly, Marisa Tomei e Jonah Hill que eles finalmente são postos em merecida evidência.
O roteiro, também assinado pelos irmãos, é muito original. John (John C. Reilly) é o protagonista, homem divorciado há sete anos. Desde o fim do relacionamento com Jamie (Catherine Keener), de quem ainda depende para receber conselhos, não conseguiu firmar nenhum namoro sério. Tudo muda ao ser convidado por Jamie, agora noiva de Tim (Matt Walsh), para uma festa. Nas investidas mal sucedidas, Molly (Marisa Tomei) é a única que lhe dá atenção, tendo gostado de seu jeito atrapalhado e sincero. O caso é promissor. O problema está em Cyrus (Jonah Hill), filho de Molly. O rapaz, que já passou dos vinte anos, nutre um relacionamento obsessivo com a mãe, interferindo seriamente neste mais novo namoro de Molly.
Não há incesto, mas os diálogos primorosos concebidos por Jay Duplass e Mark Duplass às vezes permite que Cyrus se exponha demais, como no momento em que afirma que o extremo amor que tem pela mãe não seria correspondido. Foi um acerto da dupla, que contando com atuações primorosas de seu elenco, inclusive de Catherine Keener em papel coadjuvante e especialmente de Jonah Hill (num desempenho surpreendente e que o afasta das péssimas impressões deixadas por seus fracos desempenhos cômicos anteriores) pincela os efeitos psicológicos devastadores que o abandono causa em qualquer ser humano com muito bom humor.
Título Original: Cyrus
Ano de Produção: 2010
Direção: Jay Duplass e Mark Duplass
Roteiro: Jay Duplass e Mark Duplass
Elenco: John C. Reilly, Marisa Tomei, Jonah Hill, Catherine Keener, Matt Walsh, Kathy Wittes, Jamie Donnelly, Tim Guinee e Steve Zissis
Cotação:

CyrusAs “dramédias” independentes estão com tudo nestes últimos momentos de 2010. Tivemos o ótimo “Sentimento de Culpa” e o elogiadíssimo “Minhas Mães e Meu Pai” e “Cyrus” é um grande destaque. Ao contrário do que se lê por aí, não se trata do primeiro longa-metragem dos irmãos diretores. Antes de “Cyrus”, os Duplass rodaram os pequenos “The Puffy Chair” (2005) e “Baghead” (2008), mas é neste projeto encabeçado por John C. Reilly, Marisa Tomei e Jonah Hill que eles finalmente são postos em merecida evidência.

O roteiro, também assinado pelos irmãos, é muito original. John (John C. Reilly) é o protagonista, homem divorciado há sete anos. Desde o fim do relacionamento com Jamie (Catherine Keener), de quem ainda depende para receber conselhos, não conseguiu firmar nenhum namoro sério. Tudo muda ao ser convidado por Jamie, agora noiva de Tim (Matt Walsh), para uma festa. Nas investidas mal sucedidas, Molly (Marisa Tomei) é a única que lhe dá atenção, tendo gostado de seu jeito atrapalhado e sincero. O caso é promissor. O problema está em Cyrus (Jonah Hill), filho de Molly. O rapaz, que já passou dos vinte anos, nutre um relacionamento obsessivo com a mãe, interferindo seriamente neste mais novo namoro de Molly.

Não há incesto, mas os diálogos primorosos concebidos por Jay Duplass e Mark Duplass às vezes permite que Cyrus se exponha demais, como no momento em que afirma que o extremo amor que tem pela mãe não seria correspondido. Foi um acerto da dupla, que contando com atuações primorosas de seu elenco, inclusive de Catherine Keener em papel coadjuvante e especialmente de Jonah Hill (num desempenho surpreendente e que o afasta das péssimas impressões deixadas em trabalhos cômicos anteriores) pincela os efeitos psicológicos devastadores que o abandono causa em qualquer ser humano com muito bom humor.

Título Original: Cyrus
Ano de Produção: 2010
Direção: Jay Duplass e Mark Duplass
Roteiro: Jay Duplass e Mark Duplass
Elenco: John C. Reilly, Marisa Tomei, Jonah Hill, Catherine Keener, Matt Walsh, Kathy Wittes, Jamie Donnelly, Tim Guinee e Steve Zissis
Cotação: 4 Stars.