A Invenção de Hugo Cabret

Qualquer fã de Martin Scorsese sabe que ele é um cinéfilo inveterado. Talvez por isso seja estranho testemunhar que o cineasta nascido em Nova York não tenha feito até o momento uma obra que homenageasse a sétima arte através de uma figura importante. Ok, em 2004 ele conduziu “O Aviador”, que retratava toda a vida do também diretor e produtor de cinema Howard Hughes, mas sabemos que os focos de interesse de Scorsese eram outros. Pois agora tudo isso muda com o lançamento de “A Invenção de Hugo Cabret”, produção, surpresa!, vinculada ao público infantil que marca presença em onze categorias do Oscar 2012.

Mesmo sabendo de antemão deste tributo, a primeira hora de “A Invenção de Hugo Cabret” desenvolve uma história que aponta para outras direções. Isto porque o protagonista da história é o pequeno Hugo Cabret (Asa Butterfield, de “O Menino do Pijama Listrado“), órfão adotado pelo tio Claude (Ray Winstone) para cuidar de todo o mecanismo dos relógios de uma estação de trem em Paris. Claude, um alcoólatra inconsequente, deixa o garoto à própria sorte no lugar. Todos os dias Hugo rouba alimentos para sobreviver e peças para fazer funcionar um automaton, o único objeto que tomou para si após um incêndio que matou seu pai (ponta de Jude Law). É num desses pequenos furtos que Hugo é pego no flagra por Georges (Ben Kingsley), dono de uma loja de brinquedos da estação de trem. O pequeno trabalha para Georges para compensá-lo pelos objetos que roubou e é neste momento que conhece a sobrinha dele, a doce Isabelle (Chloë Grace Moretz, a Hit-Girl de “Kick-Ass – Quebrando Tudo”). Aos poucos, Georges vai se tornando uma presença ainda mais forte na história, tendo um passado que vai de encontro à algumas experiências vivenciadas por Hugo.

Além de trabalhar num gênero que sempre lhe foi estranho, trata-se da primeira inclusão de Martin Scorsese no formato 3D. Mestre de minúcias, é evidente a contribuição que Scorsese presta para o formato, criando uma aventura que realmente faz o espectador estar imerso em meio aos cenários. É apenas um dos vários aspectos técnicos positivos na produção, que faz uma maravilhosa reconstrução da Paris de 1930. Por outro lado, as mesmas qualidades não se repetem na condução oferecida por Martin Scorsese e em algumas decisões tomadas pelo roteirista John Logan.

Como obra destinada para toda a família, “A Invenção de Hugo Cabret” perde tempo demais para chegar ao assunto, recorrendo também a personagens secundários desnecessários. É difícil acompanhar com interesse a determinação de Hugo em ativar seu automaton e os flertes entre o inspetor feito por Sacha Baron Cohen e a florista Lisette (Emily Mortimer), bem como aqueles entre o monsieur Frick (Richard Griffiths) e madame Emilie (Frances de la Tour), só existem como um alívio cômico que não funciona. Brilhantismo mesmo apenas quando finalmente descobrimos sobre o passado de Georges, algo reservado para os momentos finais de “A Invenção de Hugo Cabret”. Momentos que fazem uma maravilhosa homenagem ao cinema, com trechos de obras como “O Grande Roubo do Trem”, “O Homem Mosca”, “A General” e especialmente “Viagem à Lua” projetados pela primeira vez em 3D. Fosse essa uma história com atenções centradas apenas em Georges e Scorsese faria uma obra inestimável.

Título Original: Hugo
Ano de Produção: 2011
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan, baseado no livro  “The Invention of Hugo Cabret”, de Brian Selznick
Elenco: Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Ray Winstone, Emily Mortimer, Christopher Lee, Helen McCrory, Michael Stuhlbarg, Frances de la Tour, Richard Griffiths, Martin Scorsese e Jude Law
Cotação: 3 Stars

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