37ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Se as mulheres são classificadas como figuras frágeis e apaixonantes e os homens, difíceis e cafajestes, é porque o cinema do gênero comédia romântica ajudou a consolidar esses perfis. Porém, as mulheres reais mostram nem sempre são reprises de Bridget Jones e os homens dificilmente agregam aquele charme sem-vergonha de um Hugh Grant.
Se é difícil identificar uma mudança desse modelo na cinematografia americana, os argentinos dão conta do recado com “O que os Homens Falam”, uma espécie de coletânea de cinco histórias dirigidas por Cesc Gay. As mulheres são presenças importantes no filme, mas, como o título entrega, o foco são os homens e a quebra de cada um dos mitos relacionadas em suas interações privadas.
Para fazer com que a plateia masculina se identifique com cada relato ao mesmo tempo em que a feminina gargalha com cada uma das saias justas encenadas, o também roteirista Cesc Gay e Tomàs Aragay batiza cada um dos personagens com apenas a primeira letra do nome. Na primeira história, J. (Leonardo Sbaraglia) consola E. (Eduard Fernández), sujeito sem grana que voltou a morar com a mãe após um relacionamento desfeito. A seguir, S. (Javier Cámara) finalmente põe em prática o discurso que tanto ensaiou para a sua ex-mulher Elena (Clara Segura).
Fãs do astro argentino Ricardo Darín têm uma razão para aguardar com ansiedade a terceira história de “O que os Homens Falam”, que o traz como G., um homem de meia-idade que segue os passos de sua esposa com a intenção de flagrar uma pulada de cerca. A seguir, P. (Eduardo Noriega) parece decidido em trair sua mulher com uma colega de trabalho para o qual nunca deu atenção, Mamen (Candela Peña). Por fim, M. (Jordi Mollà) e A. (Alberto San Juan) são melhores amigos que descobrem segredos um do outro através de suas respectivas parceiras, Maria y Sara (Leonor Watling e Cayetana Guillén Cuervo).
De tão críveis, é difícil definir qual a melhor história de “O que os Homens Falam”. Em todas elas, o homem é visto como verdadeiramente é. Cada um dos personagens lida com tormentos relacionados à infidelidade, à vida sexual, à instituição familiar, à velhice e aos receios em tornar tudo isso explícito demais para outras pessoas. É desnecessária a conexão que se estabelece entre a maioria desses personagens no último ato de “O que os Homens Falam”, mas até aí já fomos brindados com relatos francos sobre o homem contemporâneo.
Una pistola en cada mano, 2012 | Dirigido por Cesc Gay | Roteiro de Cesc Gay e Tomàs Aragay | Elenco: Leonardo Sbaraglia, Eduard Fernández, Javier Cámara, Ricardo Darín, Luis Tosar, Eduardo Noriega, Jordi Mollà, Alberto San Juan, Clara Segura, Leonor Watling e Cayetana Guillén Cuervo | Perspectiva Internacional