Resenha Crítica | Desafiando a Arte (2015)

The Family Fang, de Jason Bateman

Romance de estreia de Kevin Wilson, “Caninos em Família” traz o velho tema de família disfuncional como o acabamento de uma história incomum. Após um acidente na elaboração de um artigo jornalístico que deixa a sua face temporariamente desfigurada, Buster Caninus clama pela presença de Annie ao ser resgatado no hospital pelos seus pais, Caleb e Camille. Desde que se tornaram adultos, Annie e Buster (ou A e B, como foram apelidados) escaparam de atuar em parceria com Caleb e Camille, dois artistas que vivem de aplicar prendas em multidões.

As doses de um humor negro sofisticado ajudaram “Caninos em Família” a se transformar em um best seller, chamando a atenção de Nicole Kidman para obter os direitos e solicitar ao seu roteirista de “Reencontrando a Felicidade”, David Lindsay-Abaire, a lidar com a adaptação. Nicole também assume o papel de Annie, enquanto Jason Bateman é escalado tanto como diretor quanto como Buster. Há uma diferença de tom: embora a comédia seja predominante, há muita densidade inserida no DNA dos personagens.

Annie e Buster Caninus eram figuras claramente medíocres na encarnação literária. Mesmo indicada ao Oscar, Annie sucumbiu a participação em filmes de segunda categoria, além de encontrar na bebida uma companhia para aplacar a solidão. Buster é ainda mais pálido, um escritor de um único sucesso com bloqueio criativo e sem grana no bolso. O tratamento é adequado para o direcionamento que Kevin Wilson confere ao seu romance. No entanto, o texto de Lindsay-Abaire e a condução de Bateman são mais empáticos com os agora Annie e Buster Fang.

Ainda assim, há muita fidelidade ao material original, especialmente no curso da narrativa, que investe no mistério quando Buster e Annie são comunicados pela polícia de que Caleb (Christopher Walken) e Camille (a ótima e pouco conhecida Maryann Plunkett) podem ter sido vítimas de um homicídio durante uma viagem de carro. Annie recebe a notícia com risos de indignação. Caleb e Camille acreditam que a verdadeira arte está na reação de estranhos em ações que programam, como um assalto a um banco, um beijo incestuoso em uma montagem infantil de Shakespeare ou ofender os seus filhos em uma apresentação musical em um parque. Portanto, para Annie, a cena do crime, não passa de mais uma de suas “pegadinhas artísticas”.

Enquanto se reúnem para trazer a possível farsa dos pais ao público, Annie e Buster reconhecem a influência negativa que eles exerceram em suas formações. Não apenas por enveredarem uma carreira artística, como também por serem adultos estagnados na vida com o sentimento de que foram mais amados como marionetes de Caleb e Camille para os seus experimentos do que como filhos.

As constatações levam a revelações amargas que não deixarão um sorriso no rosto, mas que retribuem com uma forte impressão sobre a tendência a reprise diante de quem sucedemos e o corte das raízes quando o reflexo não é o desejado. Ponto positivo sobretudo para Jason Bateman, um bom ator que se revela ainda melhor ao administrar a melancolia inegável em seu olhar de intérprete e diretor.

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