Os Cinco Filmes Prediletos de Erika Liporaci

Erika Liporaci (Artes & Subversão)Foi durante minha breve participação na equipe do Cinefilia (rendeu uma colaboração discreta em duas edições de uma revista virtual) que li pela primeira vez um texto assinado pela Erika. Foi uma crítica do filme “Ed Wood”. Continua sendo a melhor opinião já expressa sobre esta obra de Tim Burton e da qual já reli nas ocasiões em que me flagrei folheando a edição impressa que ainda preservo da Revista Cinefilia.

Desde então, venho acompanhando o trabalho da Erika no  Artes & Subversão, nome que faz referência ao tagline do filme “Clube da Luta”: Mischief. Mayhem. Soap. Desde janeiro de 2008 no ar, o site acompanha as novidades no circuito nacional de cinema e contém ainda relatos da Erika durante todas as suas viagens à Itália. Gosto especialmente da cobertura que ela fez de algumas edições do Festival do Rio, evento que sempre apresenta alguns dos títulos que mais tenho expectativas.

Ainda não tive o privilégio de conhecê-la pessoalmente, mas nossas interações online colaboraram pelo crescimento do meu respeito pela Erika, que se mostra tão astuta, simpática e apaixonada por cinema quanto sugere todas as suas críticas. Nossas divergências se apresentam de modo sadio e comemoramos ao percebermos que às vezes as nossas opiniões são compatíveis. Ao refletir sobre tudo isso, me deparei com as motivações necessárias para convidá-la para comentar sobre os seus cinco filmes prediletos no Cine Resenhas, mas deixo na íntegra o depoimento da Erika ao encarar a difícil missão de selecionar poucos filmes entre tantas obras queridas.

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O Cine Resenhas me deu a tarefa de listar meus cinco filmes prediletos. Não deste ano, mas da minha vida. Logo eu, que ao fim de cada ano tenho grande dificuldade em eleger um top 10! Descobri que não consigo e que, para não cometer nenhuma grande injustiça, essa lista teria que ter pelo menos uns trinta filmes. A quantidade de obras inesquecíveis e indispensáveis na minha vida só aumenta conforme a idade avança. Resolvi, então, voltar às origens. Essa não é uma lista dos meus filmes prediletos, mas sim um apanhado de cinco clássicos que influenciaram muito a minha formação e foram decisivos para moldar minhas preferências futuras. Ainda assim, cometo injustiças: são todos filmes americanos e a maioria dos meus cineastas favoritos não são citados. É duro para quem ama a sétima arte fazer escolhas desse tipo, mas o critério escolhido foi esse. Sem mais delongas, vamos aos cinco. Erika Liporaci.

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CasablancaCasablanca, de Michael Curtiz (idem, 1942)
O clássico dos clássicos, meu primeiro “filme preferido” (e talvez seja até hoje). Um roteiro perfeito, que equilibra delicadamente uma bonita história de amor com um interessante contexto político, temperado com diálogos deliciosamente irônicos. Além disso, o charme cafajeste do Rick Blaine de Humphrey Bogart e a personalidade decidida da Ilsa Lund de Ingrid Bergman tornam tudo mais intenso e verdadeiro. Ah, sim, e o terceiro vértice desse triângulo é um herói que faz um bar cantar a Marselhesa com ele diante dos nazistas. O filme já tem a respeitável idade de 70 anos e continua apaixonando cinéfilos de todas as gerações à medida que o tempo passa, como diz a inesquecível canção. A cada vez que revejo Casablanca, me emociono como se fosse a primeira vez e, assim, o filme só cresce no meu conceito. Vale lembrar que o emblemático desfecho quase foi refeito porque os executivos da Warner acharam um absurdo os protagonistas não terminarem juntos, mas felizmente Ingrid Bergman já estava rodando outro filme e ficou por isso mesmo.

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Pacto de Sangue - Double IndemnityPacto de Sangue, de Billy Wilder (Double Indemnity, 1944)
Eu poderia fazer uma lista somente com filmes de Billy Wilder, mas acabei escolhendo este. Baseado no conto de James M. Cain, Double Indemnity foi adaptado para as telas pelo próprio cineasta em parceria com Raymond Chandler e criou as bases do que posteriormente viria a ser batizado de film noir. Dentre as incontáveis qualidades destacam-se a dramática trilha sonora de Miklós Rózsa e a fotografia excepcional de John Seitz, que criou toda uma gama de texturas e nuances para a penumbra opressiva na qual vivia mergulhada a casa da femme fatale Phyllis Dietrichson. O personagem de Fred MacMurray foi recusado por muitos atores, que tinham medo de se queimar com um personagem amoral, e Barbara Stanwick foi praticamente obrigada a fazê-lo porque estava sob contrato. Mas nada como a passagem do tempo para provar o valor de uma obra-prima. O sempre genial Billy Wilder ainda driblou com maestria o Código Hayes (que proibia que “certas coisas” fossem exibidas no cinema) e realizou um filme totalmente calcado em assassinato e adultério sem mostrar nenhum dos dois na tela.

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Cantando na Chuva - Singing in the RainCantando na Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly (Singin’ in the Rain, 1952)
Mais do que um filme, Cantando na Chuva é uma aula sobre a história do cinema. É uma pena que muitos se detenham somente na cena de Gene Kelly sapateando sob a chuva. Embora seja uma bela sequência, é um trecho que não dá a dimensão exata desse interessante enredo, que conta a transição do cinema mudo para o falado através de uma famosa dupla de atores que começa a entrar em desacordo com a chegada da sonorização por conta voz desagradável da mocinha. Antes de tudo uma declaração de amor à sétima arte, o filme é repleto de cenas emocionantes. A minha preferida é aquela na qual Gene Kelly usa a magia do cinema para cortejar Debbie Reynolds: a partir de um estúdio vazio ele, passo a passo, começa a usar todos os recursos cinematográficos disponíveis para criar o cenário ideal ao romance dos dois.

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A Princesa e o Plebeu - Roman HolidayA Princesa e o Plebeu, de William Wyler (Roman Holiday, 1953)
Se for para curtir contos de fada, que seja com Audrey Hepburn como princesa. Neste seu primeiro filme como protagonista, ela encarna uma princesa rebelde que quer viver um dia de plebeia durante uma visita oficial a Roma. Haveria escolha mais perfeita para esse papel do que Audrey? Em meio às ruínas da cidade eterna, a realeza bate de frente com o repórter malandro personificado por Gregory Peck e o resto da história todo mundo já sabe: ele queria um furo de reportagem e acaba apaixonado. Um dos filmes mais charmosos e icônicos de todos os tempos, com locações que são uma atração à parte: o passeio de Vespa pelas imediações do Coliseu, a brincadeira diante da Bocca della Verità (que virou uma atração turística disputadíssima por causa desse filme), o sorvete tomado nos degraus da escadaria da Piazza di Spagna, enfim, todo o filme é um feliz somatório de história fofa, cenário encantador e dois atores no auge de seu charme e carisma. Apaixonante.

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Festim Diabólico - RopeFestim Diabólico, de Alfred Hitchcock (Rope, 1948)
Um filme aparentemente sem cortes. Ok, não exatamente sem cortes, mas realizado em longos planos-sequência de dez minutos e ambientado em um espaço cheio de limitações. Só esse prodígio de direção já garantiria a Festim Diabólico um lugar na lista, mas ele surge aqui também como representante do cinema de Alfred Hitchcock, que foi “o cara” dos meus tempos de adolescência. Talvez o primeiro cineasta que tenha tirado meu olhar do cinema contemporâneo e trazido para os clássicos, com seus mistérios e seu modo revolucionário de fazer cinema. Um esteta genial, um excêntrico, mas, sobretudo, um realizador único. Momento inesquecível? Aquela cena na qual vemos a corda do título original através da porta de vai e vem.

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2 Comments

  1. 5 filmes excelentes, hein??? Parabéns à Erika pelas escolhas! Adorei, particularmente, ver um dos meus filmes favoritos dentre os escolhidos: “A Princesa e o Plebeu”, minha comédia romântica favorita. Acho um filme extremamente carismático e que não perde seu encanto, mesmo passado décadas de seu lançamento. Além de ser especial por captar, de uma forma quase inédita, toda a magia e o caráter peculiar de Audrey Hepburn, que não escondo ser a minha atriz favorita.

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